sexta-feira, 4 de junho de 2010

RÁIÇOSSÁITE 2002

(O texto é velho, mas essas coisas mudam pouco. Muito pouco.)

O elegante jantar (anpetícomitê) de Myrtes Duotone, requintada socialáite, transcorria sem maiores emoções quando Lourdes Carolina (Luluca), fazendo pose sensual (parecia uma minhoca se contorcendo no anzol), lançou o desafio:
-Qual celebridade vocês levariam para a cama?
Caos, histeria, risos nervosos.
-Luluca, depois que voltou de Uóchinton, deu pra essas coisas...

Myrtes, de olho em Henrique (Íque) o qual por sua vez estava com Luluca na mira, foi rápida no gatilho:
-Mas como assim, celebridade? Todos aqui somos celebridades...
Aplausos, gritaria...
-Calma gente, olha a vizinhança!

-Mel Gibson... Suspirou Fabiane (Fáfi), com uma profundidade que fez Waldomiro (Vavá) olhar feio:
-Pô, também não precisa exagerar!
-E você, Vavá?
-Eu? A Gretchen!
Vaias, gargalhadas gerais.
-Esse Vavá é demais, a Gretchen!
-Quêqueu posso fazer, eu me amarro na Gretchen...
Aristides (Tide), espirituoso como sempre, não perdeu a chance:
-Ainda se fosse a Rita Cadilac...
Mais gargalhadas.
-Olha só... o Tide é chegado numa Serra Pelada...

Estavam todos muito alegres e a reunião, que tinha tudo para ser a mais completa definição de monotonia, tomou novo fôlego.
-Dona Myrtes, posso servir o jantar?
-Mais tarde, mais tarde, traz mais gelo, serve mais uísque, alguém quer cerveja?

No banheiro, Alda Françoise (Fran) sussurrava para Tathiana (Táti):
-Celebridades, máiéss! A Myrtes quer o Íque e não precisa nem ser na cama... Você viu sábado na boate? Aquilo é jeito de dançar?
-Não exagera, Fran. Além do mais, a Luluca já chegou junto e você sabe como ela é ligeira, né? E, a nível de cada uma, nós também não temos nada com isso. Agora, eu queria mesmo era o Etevaldo...
-Teté? Dizem que ele não é muito chegado...
-Hummm, quêisso, deixêle comigo só um pouquinho pra você ver...

Julio Iglesias uivava, ardente, um bolerão meloso enquanto ombro a ombro, pondo gelo nos copos, Cupertino (Cúper) murmurava, entredentes, para o Tide:
-Sabe, eu sou tarado mesmo é na Feiticeira. Aquele peitão! Mas isso eu não posso nem pensar em falar. A Táti me mata...
-É fácil, Cúper: convence a Táti a botar silicone!
-Ô Tide, desde quando isso é solução? Porque você não fala pra Fran botar nos dela?
-Tá doido, é muito caro e depois dizem que é esquisito, pode vazar tudo, sei lá...

-Quêquicêstão cochichando aí? Ô Cúper, você ainda não declarou!
-Ééééééé... Fá-lá, fá-lá, fá-lá...
-Regina Casé!
Espanto geral:
-Ôquêêêê??? Tem doido pra tudo!
-Ô Táti, quêquicê anda fazendo com o Cúper?
-Eeeeuu? Naaada...
-Então tá explicado! (Pra variar, o Tide não deixou por menos.)
Cúper queimou no golpe: -Não tem nada explicado, não senhor. É só uma questão de business. Se a Regina Casé fosse minha amante ia ser a maior força pra CuperTur com aquele negócio de Brasil Legal lá dela...
-Úúúúúú, maluco, só pensa em grana...
-Não é pra ser amante, ô doidão, é só pra dar umazinha!
Cúper sorriu amarelo e olhou disfarçadamente pro Tide, dizendo com os olhos: “Me safei legal, não?” O Tide, talvez por pena, deixou passar a oportunidade.

Finalmente veio o jantar e, como manda a tradição mineira, todos foram embora quase dois minutos depois de comer.
Luluca era ligeira mesmo. Pegou o carro, deu a volta no quarteirão, estacionou e caiu no colo de Íque. Este, com soluços e feliz por ter se livrado da Myrtes, seguiu direto pro motel.

Myrtes foi acertar o garçon. Acertar no olho, pois ele derrubou a sobremesa no colo da Fran, logo a Fran, aquela víbora!

Fran chegou em casa querendo saber o que a Rita Cadilac tem a ver com Serra Pelada, o que o Tide foi fazer no Pará mês passado e que negócio é esse de ficar de segredinhos com o Cúper.
-Alguma você anda aprontando, seu imundo...

Cúper, no carro, olhava de esguelha pros peitinhos da Táti imaginando feitiçarias e fazendo contas... Táti, também de esguelha, olhava pro Cúper desconfiando... Logo a Regina Casé...!?! Ainda se fosse a Gretchen...

Fáfi saiu do banheiro rebolando com um sorriso maroto e uma camisola safada.
-Hummm... Gretchen né, Vavá? Você quer me ver dançando?
-Tá doida, Fáfi? Vamos dormir que amanhã cedo eu trabalho e de noite tem coquetel.
-Ai, Vavááá... Coquetel, que coquetel?
-Já esqueceu, mulher? É o coquetel da padaria do Etevaldo (Teté). As novas instalações ficaram prontas... Todo mundo vai.
-E precisa coquetel pra instalação de padaria?
-Ué, Fáfi, você não queria tanto freqüentar o soçáite? Agoragüenta... Boa noite.
Vavá virou para o lado e dormiu.
Fáfi virou para o outro lado e ficou pensando no Mel Gibson, na Gretchen e na vida.

2 comentários:

  1. Texto bom é atemporal.
    Ótimo. Parabéns!
    aBIRAços

    ResponderExcluir
  2. Valeu, Bira.
    Falando em atemporal, você ainda teria aquele jurássico "scrotíssimus"? Se sim, me manda porque perdi nas idas e vindas de panes no computador.
    Abs,
    Tiago.

    ResponderExcluir