terça-feira, 8 de junho de 2010

BENEMERÊNCIA OU SALIÊNCIA?

Caixa da padaria.
Na minha frente um cidadão (bem) mais velho que eu, gentilmente abre espaço para as minhas minguadas compras. À frente dele um careca sarado trajando brincos e gola rolê, acompanhado por um djóvem coadjuvante, atravanca a fila explicando para a atarantada funcionária, com riqueza de detalhes e esgares, as delícias do Marlboro Fresh. Após ser informado da falta do produto, vai embora pisando com os calcanhares e devidamente escoltado pelo djóvem.

O macróbio à minha frente sorri para a caixa: “Você trata bem a frutinha, hein?”
A caixa, visivelmente constrangida, rebate com intimidade: “Queísso, Seu Almeida? Eu trato bem o senhor também!”
E o Seu Almeida, no melhor estilo cafajeste anos 50, suspira com voz roucomorna: “Não tanto quanto eu gostaria...”

Começo a multiplicar, de cabeça, 452 X 27. (É um truque que utilizo quando estou em situações que proibem a gargalhada: cerimônias, palestras, casamentos, velórios, almoços de família, etc.)

Graças a Deus, não preciso chegar ao resultado. O macróbio sai rápido e posso passar. Não resisto a uma rápida análise estética daquela que “não trata tão bem quanto ele gostaria” e lembro do meu pai. Todas as manhãs, a caminho do trabalho, ele galanteava qualquer mocréia que passasse na mesma calçada. Uma vez, presenciando essa situação grotesca, perguntei por que ele fazia isso. A resposta foi inesquecível: “Meu filho, isso é benemerência: mulher boa ganha elogio a cada esquina e sai esnobando. Mulher feia, com qualquer bobagem dita com um sorriso, ganha o dia.”

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