domingo, 20 de dezembro de 2009

HISTÓRIA INGLESA

Há pouco tempo foram comemorados os 400 anos da invenção do porta-retratos. Este suporte de imagens nem sempre agradáveis foi inventado por William Dashkeushoot (1562/1638), contemporâneo de outro William, o Shakespeare. Nobres russos que, ao quebrarem, se instalaram no Reino Unido como fabricantes de chapéus, os Dashkeushoot eram muito apreciados na corte.
O pequeno William herdou toda a sabedoria paterna no trato com os poderosos e se revelou um exímio conspirador, além de cronista social. Suas crônicas eram lidas semanalmente na corte para delírio e pânico de quantos ali estivessem.

Nas horas vagas, Dash (para os íntimos) se dedicava a invenções, tendo criado sua obra prima em 1608. O porta-retratos foi desenvolvido a partir do pedido de um marinheiro inglês (alto, louro, espadaúdo) que desejava, em suas constantes viagens, levar sempre perto de seu coração sensível, um retrato de Dash. Este mais que depressa, contratou um artista que desenhou seu retrato com olhar pidão.
Dash então pensou: “Pickles (esse era o nome do marinheiro alto, louro, espadaúdo) vai viajar pelos mares, a umidade logo vai destruir o retrato”. Movido pela inspiração que somente os mais puros sentimentos incentivam, juntou dois pedaços de vidro à frente e atrás do retrato e ligou-os com pequenos torniquetes.
Na despedida, Pickles mal conseguiu conter a emoção e, quando abriu a boca a chorar, o bafo de cebola misturada com cerveja quente tornou insuportável tudo ao redor.

Mas, além de se destacar nos altos escalões da pederastia britânica, Dashkeushoot era bom mesmo nas fofocas e conspirações palacianas.
A rainha Elizabeth I sucedeu à sua irmã Mary. Esta, católica fervorosa, ficou conhecida como Bloody Mary por sua sanguinária perseguição aos protestantes. (Portanto caro leitor pense duas vezes na próxima vez que for combater sua ressaca com este drink de tão nobre linhagem.)
Pois bem, Dash participou ativamente da queda de Bloody Mary e da ascensão de Elizabeth I. Dedurava a torto e a direito, e, sempre ferino, colocava em suas crônicas, comentários do tipo: “Lembrem-se sempre que existem outros mundos onde se pode cantar”. Enigmático para alguns, esse comentário foi a chave para a execução de Bloody Mary que, dizem os escritos, cantava como Chatotorix – um gaulês que durante o dia trabalhava como cavalariço na Potrobrax e à noite infernizava a vida dos vizinhos.

Elizabeth I amava as artes e foi a maior incentivadora de Shakespeare a quem franqueava teatros para exibição de suas peças. Dashkeushoot uivava de ciúmes e procurava de todas as maneiras intrigar o bardo com a rainha. Foi sua maior derrota conhecida.
Entretanto, a grande derrota de Dash, que poucos conhecem, foi no entardecer de sua vida quando conspirou para destronar Elizabeth I.
Dash convenceu o duque de Essex a conquistar a rainha. Esta, já dobrando o Cabo da Boa Esperança, não iria resistir ao garboso duque 30 anos mais moço. O intento de Dashkeushoot era deixar a rainha aos pés do duque e viabilizar a ascensão de Mary, Queen of Scots – neta de Henrique VIII. (São obscuras as razões de tal procedimento uma vez que Dash gozava de total aceitação da rainha a quem, inclusive, ensinou as delícias do banho tcheco.)

Naqueles dias, Dash estava como nunca. Pickles havia chegado de surpresa e quase pega Dash numa animada tertúlia com Prong, outro marinheiro só que norueguês. Refeito do sustinho, Dash dividia seu tempo entre os corredores palacianos e o cais. Mas... Betinha de boba não tinha nada. Podia estar matando cachorro a gritaço, mas ainda era a rainha da Inglaterra! Ela, sem precisar de ABIN, CPI, ou qualquer outra bobagem, sacou as manobras. Muito a contragosto, mandou executar o duque, despachando, em seguida, um mensageiro para a Escócia com a frase sucinta: “Sífu!”
E ficou deprimida pelo resto de seus dias.

O espantoso é que Dashkeushoot saiu completamente ileso desse episódio, confirmando de uma vez por todas, suas altas qualidades conspiratórias e escapatórias.
Ao ver seus planos ruírem, Dash correu para os fortes braços de Pickles que, por sua vez, já sabia de Prong. Ironia, Pickles e Prong partiram num cruzeiro para o nordeste do Brasil (índios novinhos à disposição) e Dashkeushoot, profundamente transtornado, abandonou a corte e passou a fabricar porta-retratos que ninguém comprava.
São tortuosos os caminhos ingleses.

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