(Pois duvido que alguém vá ler.
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Canseira, né?)
MAURO SANTAYANA
A NOVA MARCHA DOS
INSENSATOS
E A SUA PRIMEIRA VÍTIMA
Esperam-se, para o
próximo dia 16 de agosto - mês do suicídio de Vargas e de tantas desgraças que
já se abateram sobre o Brasil - novas manifestações pelo impeachment da
Presidente da República, por parte de pessoas que acusam o governo de
ser corrupto e comunista e de estar quebrando o país.
Se esses
brasileiros, antes de ficar repetindo sempre os mesmos comentários dos portais
e redes sociais, procurassem fontes internacionais em que o mercado financeiro
normalmente confia para tomar suas decisões, como o FMI - Fundo Monetário
Internacional e o Banco Mundial, veriam que a história é bem diferente, e que
se o PIB e a renda per capita caíram, e a dívida pública líquida praticamente
dobrou, foi no governo Fernando Henrique Cardoso.
Segundo o Banco
Mundial, (worldbank1) o PIB do Brasil, que era de 534 bilhões de
dólares, em 1994, caiu para 504 bilhões de dólares, quando Fernando Henrique
Cardoso deixou o governo, oito anos depois.
Para subir, extraordinariamente, destes 504 bilhões de dólares, em 2002, para 2
trilhões, 346 bilhões de dólares, em 2014, último dado oficial levantado pelo
Banco Mundial, crescendo mais de 400% em dólares, em apenas 11 anos, depois que
o PT chegou ao poder.
E isso, apesar de
o senhor Fernando Henrique Cardoso ter vendido mais de 100 bilhões de dólares
em empresas brasileiras, muitas delas estratégicas, como a Telebras, a Vale do
Rio Doce e parte da Petrobras, com financiamento do BNDES e uso de “moedas
podres”, com o pretexto de sanear as finanças e aumentar o crescimento do país.
Com a renda per
capita ocorreu a mesma coisa. No lugar de crescer em oito anos, a renda per
capita da população brasileira, também segundo o Banco Mundial - (worldbank2) - caiu de 3.426 dólares, em 1994, no início do
governo, para 2.810 dólares, no último ano do governo Fernando Henrique
Cardoso, em 2002. E aumentou, também, em mais de 400%, de 2.810 dólares, para
11.208 dólares, também segundo o World Bank, depois que o PT chegou ao poder.
O salário mínimo,
que em 1994, no final do governo Itamar Franco, valia 108 dólares, caiu 23%,
para 81 dólares, no final do governo FHC e aumentou em três vezes, para mais de
250 dólares, agora.
As reservas
monetárias internacionais - o dinheiro que o país possui em moeda forte - que
eram de 31,746 bilhões de dólares, no final do governo Itamar Franco, cresceram
em apenas algumas centenas de milhões de dólares por ano, para 37.832 bilhões
de dólares - (worldbank3) nos oito anos do governo FHC.
Nessa época, elas
eram de fato, negativas, já que o Brasil, para chegar a esse montante,
teve que fazer uma dívida de 40 bilhões de dólares com o FMI.
Depois, elas se
multiplicaram para 358,816 bilhões de dólares em 2013, e para 370,803 bilhões
de dólares, em dados de ontem (Bacen), transformando o Brasil de devedor em credor do FMI,
depois do pagamento total da dívida com essa instituição em 2005, e de
emprestarmos dinheiro para o Fundo Monetário Internacional, quando do pacote de
ajuda à Grécia em 2008.
E, também, no
terceiro maior credor individual externo dos EUA, segundo consta, para quem
quiser conferir, do próprio site oficial do tesouro norte-americano -(usa treasury).
O IED -
Investimento Estrangeiro Direto, que foi de 16,590 bilhões de dólares, em 2002,
no último ano do Governo Fernando Henrique Cardoso, também subiu mais de quase
400%, para 80,842 bilhões de dólares, em 2013, depois que o PT chegou ao poder,
ainda segundo dados do Banco Mundial: (worldbank4), passando de aproximadamente 175 bilhões de
dólares nos anos FHC (mais ou menos 100 bilhões em venda de empresas nacionais)
para 440 bilhões de dólares entre 2002 e 2014.
A dívida pública
líquida (o que o país deve, fora o que tem guardado no banco), que, apesar das
privatizações, dobrou no Governo Fernando Henrique, para quase 60%, caiu para
35%, agora, 11 anos depois do PT chegar ao poder (aqui).
Quanto à questão
fiscal, não custa nada lembrar que a média de déficit público, sem
desvalorização cambial, dos anos FHC, foi de 5,53%, e com desvalorização
cambial, de 6,59%, bem maior que os 3,13% da média dos anos que se seguiram à
sua saída do poder; e que o superavit primário entre 1995 e 2002 foi de 1,5%,
muito menor que os 2,98% da média de 2003 e 2013 - segundo Ipeadata e o Banco
Central.
E, ao contrário do
que muita gente pensa, o Brasil ocupa, hoje, apenas o quinquagésimo lugar do
mundo, em dívida pública, em situação muito melhor do que os EUA, o Japão, a
Zona do Euro, ou países como a Alemanha, a França, a Grã Bretanha - cujos
jornais adoram ficar nos ditando regras e “conselhos” - ou o Canadá (economichelp).
Também ao
contrário do que muita gente pensa, a carga tributária no Brasil caiu
ligeiramente, segundo Banco Mundial, de 2002, no final do governo FHC, para o
último dado disponível, de dez anos depois (worldbank5), e não está entre a primeiras do mundo, assim como
a dívida externa, que caiu mais de 10 pontos percentuais nos últimos dez anos,
e é a segunda mais baixa, depois da China, entre os países do G20 (quandl).
Não dá, para, em
perfeito juízo, acreditar que os advogados, economistas, empresários,
jornalistas, empreendedores, funcionários públicos, majoritariamente formados
na universidade, que bateram panelas contra Dilma em suas varandas, no início
do ano, acreditem mais nos boatos das redes sociais - reforçados por um
verdadeiro estelionato midiático - do que no FMI e no Banco Mundial, organizações
que podem ser taxadas de tudo, menos de terem sido “aparelhadas” pelo governo
brasileiro e seus seguidores.
Considerando-se
estas informações, que estão, há muito tempo, publicamente disponíveis na
internet, o grande mistério da economia brasileira, nos últimos 12 anos, é
saber em que dados tantos jornalistas, economistas, e “analistas”, ouvidos a
todo momento, por jornais, emissoras de rádio e televisão, se basearam, antes e
agora, para tirar, como se extrai um coelho da cartola - ou da "cachola"
- o absurdo paradigma, que vêm defendendo há anos, de que o Governo Fernando
Henrique foi um tremendo sucesso econômico, e de que deixou “de presente” para
a administração seguinte, um país econômica e financeiramente bem sucedido.
Nefasto paradigma,
este, que abriu caminho, pela repetição, para outra teoria tão frágil quanto
mentirosa, na qual acreditam piamente muitos dos cidadãos que vão sair às ruas
no próximo dia dezesseis: a de que o PT estaria, agora, jogando pela janela,
essa - supostamente maravilhosa - “herança” de Fernando Henrique Cardoso.
O pior cego é o
que não quer ver, o pior surdo, o que não quer ouvir.
Está certo que não
podemos ficar apenas olhando para o passado, que temos de enfrentar os desafios
do presente, fruto de uma crise que é internacional, e que é constantemente
alimentada e realimentada por medidas de caráter jurídico que afetam a credibilidade
e a estabilidade de empresas e por uma intensa campanha antinacional, que fazem
com que estejamos crescendo pouco, neste ano, embora haja diversos países ditos
“desenvolvidos” que estejam muito mais endividados e crescendo menos ainda do
que nós.
Assim como também
é verdade que esse governo não é perfeito, e que se cometeram vários erros na
economia, que poderiam ter sido evitados, principalmente nos últimos anos, como
desonerações desnecessárias e um tremendo incentivo ao consumo que prejudicou -
entre outras razões, também pelo aumento da importação de supérfluos e de
viagens ao exterior - a balança comercial.
Mas, pelo amor de
Deus, não venham nos impingir nenhuma dessas duas fantasias, que estão
empurrando muita gente a sair às ruas para se manifestar: nem Fernando Henrique
salvou o Brasil, nem o PT está quebrando um país que em 2002, era a
décima-quarta maior economia do mundo, e que hoje já ocupa o sétimo lugar.
Muitos brasileiros
também vão sair às ruas, mais esta vez, por acreditar - assim como fazem com
relação à afirmação de que o PT quebrou o país - que o governo Dilma é
comunista e que ele quer implantar uma ditadura esquerdista no Brasil.
Quais são os
pressupostos e características de um país democrático, ao menos do ponto de
vista de quem "acredita" e defende o capitalismo?
a) a liberdade de
expressão - o que não é verdade para a maioria dos países ocidentais -
dominados por grandes grupos de mídia pertencentes a meia dúzia de famílias,
mas que, do ponto de vista formal, existe plenamente por aqui;
b) a liberdade de
empreender, ou de livre iniciativa, por meio da qual um indivíduo
qualquer pode abrir ou encerrar uma empresa de qualquer tipo, quando quiser;
c) a liberdade de
investimento, inclusive para capitais estrangeiros;
d) um sistema
financeiro particular independente e forte;
e) apoio do
governo à atividade comercial e produtiva;
f) a independência
dos poderes;
g) um sistema que
permita a participação da população no processo político, na expressão da
vontade da maioria, por meio de eleições livres e periódicas, para a escolha, a
intervalos regulares e definidos, de representantes para o Executivo e o
Legislativo, nos municípios, Estados e União.
Todas essas
premissas e direitos estão presentes e vigentes no Brasil.
Não é o fato de
ter como símbolo uma estrela solitária ou vestir uma roupa vermelha - hábito
que deveria ter sido abandonado pelo PT há muito tempo, justamente para não
justificar o discurso adversário de que o PT não é um partido
"brasileiro" ou "patriótico" - que transformam alguém em
comunista - e aí estão botafoguenses e colorados que não me deixam mentir,
assim como o Papai Noel, que se saísse inadvertidamente às ruas, no dia 6,
provavelmente seria espancado brutalmente, depois de ter o conteúdo de seu
saco de brinquedos revistado e provavelmente “apreendido” à procura de dinheiro
de corrupção.
Da mesma forma que
usar uma bandeira do Brasil não transforma, automaticamente, ninguém em
patriota, como mostrou a foto do Rocco Ritchie, o filho da Madonna, no
Instagram, e os pavilhões nacionais pendurados na entrada do prédio da Bolsa de
Nova Iorque, quando da venda de ações de empresas estratégicas brasileiras, na
época da privataria.
Qualquer pessoa de
bom senso prefere um brasileiro vestido de vermelho - mesmo que seja
flamenguista ou sãopaulino, que não são, por acaso, times do meu coração - do
que um que vai para a rua, vestido de verde e amarelo, para defender a
privatização e a entrega, para os EUA, de empresas como a Petrobras.
O PT é um partido tão
comunista, que o lucro dos bancos, que foi de aproximadamente 40 bilhões
de dólares no governo Fernando Henrique Cardoso, aumentou para 280 bilhões de
dólares nos oito anos do governo Lula.
É claro que isso
ocorreu também por causa do crescimento da economia, que foi de mais de 400%
nos últimos 12 anos, mas só o fato de não aumentar a taxação sobre os ganhos
dos mais ricos e dos bancos - que, aliás, teria pouquíssima chance de passar no
Congresso Nacional - já mostra como é exagerado o medo que alguns sentem do
“marxismo” do Partido dos Trabalhadores.
O PT é um partido
tão comunista, que grandes bancos privados deram mais dinheiro para a campanha
de Dilma e do PT do que para os seus adversários nas eleições de 2014.
Será que os
maiores bancos do país teriam feito isso, se dessem ouvidos aos radicais que
povoam a internet, que juram, de pés juntos, que Dilma era assaltante de
banco na década de 1970, ou se desconfiassem que ela é uma perigosa
terrorista, que está em vias de dar um golpe comunista no Brasil ?
O PT é um partido
tão comunista que nenhum governo apoiou, como ele, o capitalismo e a livre
iniciativa em nosso país.
Foi o governo do
PT que criou o Construcard, que já emprestou mais de 20 bilhões de reais em
financiamento, para compra de material de construção, beneficiando milhares de
famílias e trabalhadores como pedreiros, pintores, construtores; que criou o
Cartão BNDES, que atende, com juros subsidiados, milhares de pequenas e médias
empresas e quase um milhão de empreendedores; que aumentou, por mais de
quatro, a disponibilidade de financiamento para crédito imobiliário - no
governo FHC foram financiados 1,5 milhão de unidades, nos do PT mais de 7
milhões - e o crédito para o agronegócio (no último Plano Safra de Fernando Henrique,
em 2002, foram aplicados 21 bilhões de reais, em 2014/2015, 180 bilhões
de reais, 700% a mais) e a agricultura familiar (só o governo Dilma financiou
mais de 50 bilhões de reais contra 12 bilhões dos oito anos de FHC).
Aumentando a
relação crédito-PIB, que era de 23%, em dezembro de 2002, para 55%, em dezembro
de 2014, gerando renda e empregos e fazendo o dinheiro circular.
As pessoas
reclamam, na internet, porque o governo federal financiou, por meio do BNDES,
empresas brasileiras como a Braskem, a Vale e a JBS.
Mas,
estranhamente, não fazem a mesma coisa para protestar pelo fato do governo do
PT, altamente “comunista”, ter emprestado - equivocadamente a nosso ver -
bilhões de reais para multinacionais estrangeiras, como a Fiat e a Telefónica
(Vivo), ao mesmo tempo em que centenas de milhões de euros, seguem para a
Europa, como andorinhas, todos os anos, em remessa de lucro, para nunca mais
voltar.
A QUESTÃO MILITAR
Outro mito sobre o
suposto comunismo do PT, é que Dilma e Lula, por revanchismo, sejam contra as
Forças Armadas, quando suas administrações, à frente do país, começaram e estão
tocando o maior programa militar e de defesa da história brasileira.
Lula nunca pegou
em armas contra a ditadura. No início de sua carreira como líder de sindicato,
tinha medo “desse negócio de comunismo” - como já declarou uma vez -
surgiu e subiu como uma liderança focada na defesa de empregos, aumentos
salariais e melhoria das condições de classe de seus companheiros de trabalho,
operários da indústria automobilística de São Paulo, e há quem diga que teria
sido indiretamente fortalecido pelo próprio regime militar para impedir o
crescimento político dos comunistas em São Paulo.
Dilma, sim, foi
militante de esquerda na juventude, embora nunca tenha pego em armas, a ponto
de não ter sido acusada disso sequer pela Justiça Militar.
Mas se, por esta
razão, ela é comunista, seria possível acusar desse mesmo “crime” também José
Serra, Aloísio Nunes Ferreira, e muitos outros que antes eram contra a ditadura
e estão, hoje, contra o PT.
Se o PT tivesse
alguma coisa contra a Marinha, ele teria financiado, por meio do PROSUB, a
construção do estaleiro e da Base de Submarinos de Itaguaí, e investido 7
bilhões de dólares no desenvolvimento conjunto com a França, de vários
submersíveis convencionais e do primeiro submarino nuclear brasileiro, cujo
projeto se encontra hoje ameaçado, porque suas duas figuras-chave, o Presidente
do Grupo Odebrecht, e o Vice-Almirante Othon Pinheiro da Silva, figuras
públicas, com endereço conhecido, estão desnecessária e arbitrariamente
detidos, no âmbito da "Operação Lava-Jato"?
Teria, da mesma
forma, o governo do PT, comprado novas fragatas na Inglaterra, voltado a
fabricar navios patrulha em nossos estaleiros, até para exportação para países
africanos, investido na remotorização totalmente nacional de mísseis tipo
Exocet, na modernização do navio aeródromo (porta-aviões) São Paulo, na compra
de um novo navio científico oceanográfico na China, na participação e no
comando por marinheiros brasileiros das Forças de Paz da ONU no Líbano ?
Se fosse
comunista, o governo do PT estaria, para a Aeronáutica, investido bilhões de
dólares no desenvolvimento conjunto com a Suécia, de mais de 30 novos
caças-bombardeio Gripen NG-BR, que serão fabricados dentro do país, com a
participação de empresas brasileiras e da SAAB, com licença de exportação para
outras nações, depois de uma novela de mais de duas décadas sem avanço nem
solução, que começou no governo FHC ?
Se fosse comunista
- e contra as forças armadas - teria o governo do PT encomendado à Aeronáutica
e à Embraer, com investimento de um bilhão de reais, do
governo federal, o
projeto do novo avião cargueiro militar multipropósito KC-390,
desenvolvido com a cooperação da Argentina, do Chile, de Portugal e da
República Tcheca, capaz de carregar até blindados, que já começou a voar neste
ano - a maior aeronave já fabricada no Brasil ?
Teria comprado,
para os Grupos de Artilharia Aérea de Auto-defesa da FAB, novas
baterias de mísseis IGLA-S; ou feito um acordo com a África do Sul, para o
desenvolvimento conjunto - em um projeto que também participa a Odebrecht - com
a DENEL Sul-africana, do novo míssil ar-ar A-Darter, que ocupará os nossos
novos caças Gripen NG BR?
Se fosse um
governo comunista, o governo do PT teria financiado o desenvolvimento, para o
Exército, do novo Sistema Astros 2020, e recuperado financeiramente a AVIBRAS ?
Se fosse um
governo comunista, que odiasse o Exército, o governo do PT teria financiado e
encomendado a engenheiros dessa força, o desenvolvimento e a fabricação, com
uma empresa privada, de 2.050 blindados da nova família de tanques Guarani, que
estão sendo construídos na cidade de Sete Lagoas, em Minas Gerais?
Ou o
desenvolvimento e a fabricação da nova família de radares SABER, e, pelo IME e
a IMBEL, para as três armas, da nova família de Fuzis de Assalto IA-2, com
capacidade para disparar 600 tiros por minuto, a primeira totalmente projetada
no Brasil ?
Ou encomendado e
investido na compra de helicópteros russos e na nacionalização de novos
helicópteros de guerra da Helibras e mantido nossas tropas - em benefício da
experiência e do prestígio de nossas forças armadas - no Haiti e no Líbano?
Em 2012, o novo
Comandante do Exército, General Eduardo Villas Bôas, então Comandante Militar
da Amazônia, respondeu da seguinte forma a uma pergunta, em entrevista à
Folha de São Paulo:
Lucas Reis:
“Em 2005, o então
Comandante do Exército, general Albuquerque, disse “o homem tem direito a tomar
café, almoçar e jantar, mas isso não está acontecendo (no Exército). A
realidade atual mudou?
General Eduardo
Villas Bôas:
“Mudou muito. O
problema é que o passivo do Exército era muito grande, foram décadas de
carência. Desde 2005, estamos recebendo muito material, e agora é que estamos
chegando a um nível de normalidade e começamos a ter visibilidade. Não
discutimos mais se vai faltar comida, combustível, não temos mais essas
preocupações.”
Deve ter sido,
também, por isso, que o General Villas Bôas, já desmentiu, como Comandante do
Exército, neste ano, qualquer possibilidade de "intervenção militar"
no país, como se pode ver aqui (O recado das armas).
A QUESTÃO
EXTERNA
A outra razão que
contribui para que o governo do PT seja tachado de comunista, e muita gente
saía às ruas, no domingo, é a política externa, e a lenda do “bolivarianismo”
que teria adotado em suas relações com o continente sul-americano.
Não é possível, em
pleno século XXI, que os brasileiros não percebam que, em matéria de política
externa e economia, ou o Brasil se alia estrategicamente com os BRICS (Rússia,
Índia, China e África do Sul), potências ascendentes como ele; e estende sua
influência sobre suas áreas naturais de projeção, a África e a América Latina -
incluídos países como Cuba e Venezuela, porque não temos como ficar escolhendo
por simpatia ou tipo de regime - ou só nos restará nos inserir, de forma
subalterna, no projeto de dominação europeu e anglo-americano?
Ou nos
transformarmos, como o México, em uma nação de escravos, como se pode ver aqui (O México e a América do Sul) que monta peças alheias, para
mercados alheios, pelo módico preço de 12 reais por dia o salário mínimo ?
Jogando, assim, no
lixo, nossa condição de quinto maior país do mundo em território e população e
sétima maior economia, e nos transformando, definitivamente, em mais uma
colônia-capacho dos norte-americanos?
Ou alguém acha que
os Estados Unidos e a União Europeia vão abrir, graciosamente, seus territórios
e áreas sob seu controle, à nossa influência, política e econômica, quando eles
já competem, descaradamente, conosco, nos países que estão em nossas
fronteiras?
Do ponto de vista
dessa direita maluca, que acusa o governo Dilma de financiar, para uma empresa
brasileira, a compra de máquinas, insumos e serviços no Brasil, para fazer um
porto em Cuba - a mesma empresa brasileira está fazendo o novo aeroporto de Miami,
mas ninguém toca no assunto, como se pode ver aqui (A Odebrecht e o BNDES)- muito mais grave, então, deve ter sido
a decisão tomada pelo Regime Militar no Governo do General Ernesto
Geisel.
Naquele momento,
em 1975, no bojo da política de aproximação com a África inaugurada, no Governo
Médici, pelo embaixador Mario Gibson Barbosa, o Brasil dos generais foi a
primeira nação do mundo a reconhecer a independência de Angola.
Isso, quando
estava no poder a guerrilha esquerdista do MPLA - Movimento Popular para a
Libertação de Angola, comandado por Agostinho Neto, e já havia no país
observadores militares cubanos, que, com uma tropa de 25.000 homens, lutariam e
expulsariam, mais tarde, no final da década de 1980, o exército racista
sul-africano, militarmente apoiado por mercenários norte-americanos, do
território angolano depois da vitoriosa batalha de Cuito-Cuanavale.
Ao negar-se a
meter-se em assuntos de outros países, como Cuba e Venezuela, em áreas como a
dos “direitos humanos”, Dilma não faz mais do fez o Regime Militar brasileiro,
com uma política externa pautada primeiro, pelo “interesse nacional”, ou do
“Brasil Potência”, que estava voltada, como a do governo do PT, prioritariamente
para a América do Sul, a África e a aproximação com os países árabes, que foi
fundamental para que vencêssemos a crise do petróleo.
Também naquela
época, o Brasil recusou-se a assinar qualquer tipo de Tratado de Não
Proliferação Nuclear, preservando nosso direito a desenvolver armamento
atômico, possibilidade essa que nos foi retirada definitivamente, com a
assinatura de um acordo desse tipo no governo de Fernando Henrique
Cardoso.
Se houvesse, hoje,
um Golpe Militar no Brasil, a primeira consequência seria um boicote econômico
por parte do BRICS e de toda a América Latina, reunida na UNASUL e na CELAC,
com a perda da China, nosso maior parceiro comercial, da Rússia, que é um
importantíssimo mercado para o agronegócio brasileiro, da Índia, que nos compra
até mesmo aviões radares da Embraer, e da Àfrica do Sul, com quem estamos
também intimamente ligados na área de defesa.
O mesmo ocorreria
com relação à Europa e aos EUA, de quem receberíamos apenas apoio
extra-oficial, e isso se houvesse um radical do partido republicano na Casa
Branca.
Os
neo-anticomunistas brasileiros reclamam todos os dias de Cuba, um país com quem
os EUA acabam de reatar relações diplomáticas, visitado por três milhões de
turistas ocidentais todos os anos, em que qualquer visitante entra livremente e
no qual opositores como Yoani Sanchez atacam, também, livremente, o governo,
ganhando dinheiro com isso, sem ser incomodados.
Mas não deixam de
comprar, hipocritamente, celulares e gadgets fabricados em Shenzen ou em
Xangai, por empresas que contam, entre seus acionistas, com o próprio
Partido Comunista.
Serão os
"comunistas" chineses - para a neo-extrema-direita nacional -
melhores que os "comunistas" cubanos ?
A QUESTÃO POLÍTICA
A atividade
política, no Brasil, sempre funcionou na base do “jeitinho” e da “negociação”.
Mesmo quando
interrompido o processo democrático, com a instalação de ditaduras - o que
ocorreu algumas vezes em nossa história - a política sempre foi feita por meio
da troca de favores entre membros dos Três Poderes, e, principalmente, de
membros do Executivo e do Legislativo, já que, sem aprovação - mesmo que
aparente - do Congresso, ninguém consegue administrar este país nem mudar a lei
a seu favor, como foi feito com a aprovação da reeleição para prefeitos,
governadores e Presidentes da República, obtida pelo Presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Toda estrutura
coletiva, seja ela uma jaula de zoológico, ou o Parlamento da Grã Bretanha,
funciona na base da negociação.
Fora disso,
só existe o recurso à violência, ou à bala, que coloca qualquer
machão, por mais alto, feio e forte seja, na mesma posição de
vulnerabilidade de qualquer outro ser humano.
O “toma-lá-dá-cá”
nos acompanha há milhares de anos e qualquer um pode perceber isto, se parar
para observar um grupo de primatas.
Ai daquele, entre
os macacos, que se recusa a catar carrapatos nas costas alheias, a dividir o
alimento, ou a participar das tarefas de caça, coleta ou vigilância.
Em seu longo e
sábio aprendizado com a natureza, já entenderam eles, uma lição que,
parece, há muito, esquecemos: a de que a sobrevivência do grupo depende da
colaboração e do comportamento de cada um.
O problema ocorre
quando nesse jogo, a cooperação e a solidariedade, são substituídas pelo
egoísmo e o interesse de um indivíduo ou de um determinado grupo, e a
negociação, dentro das regras usuais, é trocada por pura pilantragem ou o
mero uso da ameaça e da pressão.
O corrupto, entre
os primatas, é aquele que quer receber mais cafuné do que faz nos outros,
o que rouba e esconde comida, quem, ao ver alguma coisa no solo da floresta ou
da savana, olha para um lado e para o outro, e ao ter certeza de que não está
sendo observado, engole, quase engasgando, o que foi encontrado.
O fascista é
aquele que faz a mesma coisa, mas que se apropria do que pertence aos outros,
pela imposição extremada do medo e da violência mais injusta.
Se não há futuro
para os egoístas nos grupos de primatas, também não o há para os fascistas.
Uns e outros
terminam sendo derrotados e expulsos, de bandos de chimpanzés, babuínos e
gorilas, ou da sociedade humana, a dos "macacos nus", quando contra
eles se une a maioria.
Já que a
negociação é inerente à natureza humana, e que ela é sempre melhor do que a
força, o que é preciso fazer para diminuir a corrupção, que não acabará nem com
golpe nem por decreto ?
Mudar o que for
possível, para que, no processo de negociação, haja maior transparência, menos
espaço para corruptos e corruptores, e um pouco mais de interesse pelo bem
comum do que pelo de grupos e corporações, como ocorre hoje no Congresso.
O caminho para
isso não é o impeachment, nem golpe, mas uma Reforma Política, que mude as
coisas de fato e o faça permanentemente, e não apenas até as próximas eleições,
quando, certamente, partidos e candidatos procurarão empresas para financiar
suas campanhas, se elas estiverem dispostas ainda a financiá-los, como se pode
ver aqui (A memória, os elefantes e o financiamento empresarial de campanha)
- e espertalhões da índole de um Paulo Roberto Costa, de um Pedro
Barusco, de um Alberto Youssef, voltarão a meter a mão em fortunas, não para
fazer “política” mas em benefício próprio, e as mandarão para bancos como
o HSBC e paraísos fiscais como os citados no livro "A Privataria
Tucana".
O que é preciso
saber, é se essa Reforma Política será efetivamente feita, já que é fundamental
e inadiável, ou se a Nação continuará suspensa, com toda a sua atenção atrelada
a um processo criminal, que tem beneficiado principalmente bandidos identificados
até agora, que, em sua maioria, devido a distorcidas "delações", que
não se sustentam, na maioria dos casos, em mais provas que a sua palavra,
sairão dessa impunes, para gastar o dinheiro, que, quase certamente, colocaram
fora do alcance da lei, da compra de bens e de contas bancárias.
Pessoas falam e
agem, e sairão no dia seis de agosto às ruas também por causa disso, como se o
Brasil tivesse sido descoberto ontem e o caso de corrupção da Petrobras, não
fosse mais um de uma longa série de escândalos, a maioria deles sequer
investigados antes de 2002.
Se a intenção é
passar o país a limpo e punir de forma exemplar toda essa bandalheira, era
preciso obedecer à fila e à ordem de chegada, e ao menos reabrir, mesmo que
fosse simultaneamente, mas com a mesma atenção e "empenho", casos
como o do Banestado - que envolveu cerca de 60 bilhões - do Mensalão Mineiro, o
do Trensalão de São Paulo, para que estes, que nunca mereceram o mesmo
tratamento da nossa justiça nem da sociedade, fossem investigados e punidos, em
nome da verdade e da isonomia, na grande faxina "moral" que se
pretende estar fazendo agora.
Ora, em um país
livre e democrático - no qual, estranhamente, o governo está sendo acusado de
promover uma ditadura - qualquer um tem o direito de ir às ruas para protestar
contra o que quiser, mesmo que o esteja fazendo por falta de informação, por
estar sendo descaradamente enganado e manipulado, ou por pensar e agir mais com
o ódio e com o fígado do que com a cabeça e a razão.
Esse tipo de
circunstância facilita, infelizmente, a possibilidade de ocorrência dos mais
variados - e perigosos - incidentes, e o seu aproveitamento por quem gostaria,
dentro e fora do país, de ver o circo pegar fogo.
Para os que estão
indo às ruas por achar que vivem sob uma ditadura comunista, é sempre bom
lembrar que em nome do anticomunismo, se instalaram - de Hitler a Pinochet -
alguns dos mais terríveis e brutais regimes da História.
E que nos
discursos e livros do líder nazista podem ser encontradas, sobre o comunismo as
mesmas teses, e as mesmas acusações falsas e esfarrapadas que se encontram hoje
disseminadas na internet brasileira, e que seus seguidores também pregavam
matar a pau judeus, socialistas e comunistas, como fazem muitos fascistas hoje
na internet, com relação aos petistas.
A questão não é a
de defender ou não o comunismo - que, aliás, como "bicho-papão"
institucional, só sobrevive, hoje, em estado "puro", na Coréia do
Norte - mas evitar que, em nome da crescente e absurda paranoia anticomunista,
se destrua, em nosso país, a democracia.
Esperemos que os
protestos do dia 16 de agosto transcorram pacificamente - considerando-se a
forma como estão sendo convocados e os apelos ao uso da violência que já estão
sendo feitos por alguns grupos nas redes sociais - e que não sejam utilizados
por inimigos internos e externos, por meio de algum "incidente", para
antagonizar e dividir ainda mais os brasileiros, e nem tragam como
consequência, no limite, a morte de ninguém, além da Verdade - que já se
transformou, há muito tempo, na primeira e mais emblemática vítima desse tipo
de manifestação.
Há muitos anos,
deixamos de nos filiar a organizações políticas, até por termos consciência de
que não há melhor partido que o da Pátria, o da Democracia e o da Liberdade.
O rápido
fortalecimento da radicalização direitista no Brasil - apesar dos alertas que
tem sido feitos, nos últimos três ou quatro anos, por muitos observadores - só
beneficia a um grupo: à própria extrema direita, cada vez mais descontrolada,
odienta e divorciada da realidade.
Na longa
travessia, pelo tempo e pelo mundo, que nos coube fazer nas últimas décadas,
entre tudo o que aprendemos nas mais variadas circunstâncias políticas e
históricas, aqui e fora do país, está uma lição que reverbera, de Weimar a
Auschwitz, profunda como um corte:
Com a
extrema-direita não se brinca, não se alivia, não se tergiversa, não se
compactua.
Quem não perceber
isso - e esse erro - por omissão ou interesse - tem sido cometido tanto
por gente do governo quanto da oposição - ou está sendo ingênuo, ou
irresponsável, ou mal intencionado.