quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

AVAREZA COGNITIVA


Nome danado de chique para um mal corriqueiro que assola todos nós, a hipótese da "avareza cognitiva" mostra que nosso cérebro busca caminhos fáceis para resolver problemas.

O problema a seguir é do cientista computacional Hector Levesque, da Universidade de Toronto:
Jack olha para Anne, porém Anne olha para George;
Jack é casado, mas George, não.
Uma pessoa casada está olhando para uma pessoa solteira?

A) Sim
B) Não
C) Não é possível determinar





 

Mais de 80% das pessoas escolhem C. Mas a resposta correta é A.
A explicação é lógica: Anne é a única pessoa cuja situação é desconhecida.
É preciso considerar as duas possibilidades, casada ou solteira, para determinar se há informação suficiente para chegarmos a uma conclusão.
Se Anne fosse casada, a resposta seria A: ela seria a pessoa casada que olha para a pessoa solteira (George).
Se Anne fosse solteira, a resposta continuaria a ser A: neste caso, Jack seria a pessoa casada que olha para Anne, a solteira.
Esse processo de pensamento é chamado de raciocínio totalmente disjuntivo - o raciocínio que considera todas as possibilidades. O fato de o problema não revelar se Anne é ou não é casada sugere às pessoas que elas não contam com informações suficientes, e elas acabam fazendo a inferência mais fácil, C, sem analisar todas as possibilidades.
A maioria consegue usar o raciocínio totalmente disjuntivo se informada explicitamente que ele é necessário (por exemplo, quando não há uma opção "não é possível determinar"). Mas grande parte não o faz automaticamente.

Daí para o pré-conceito é um pulinho: Gorda = Antiestética, Gulosa
Aluno Bagunceiro = Doidão, Problemas em Casa
E assim por diante.
Numa época em que a velocidade é considerada a mãe de todas as virtudes, fica bem difícil dar uma paradinha pra pensar.
Mas, deveria ser obrigação.

4 comentários:

  1. Gostei, Tiago. Em primeiro lugar, porque acertei!..
    Mas muito mais do que isso, por seus comentários depois, que colocam o preconceito e o pré-conceito sob um ângulo que eu nunca tinha imaginado.
    Valeu!!

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    Respostas
    1. Ângulo esse que não é de minha lavra e sim de Gordon Allport que, em 1954 (!), escreveu "A Natureza do Preconceito" e virou escola de psicologia.
      Tô na captura desse livro.
      Abs.

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  2. Ah, está explicado: muita coisa boa começou em 1954... (ano em que meu pai nasceu...)

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  3. Realmente muita coisa boa aconteceu em 54.
    Mas, você se enganou com a referência da data, né não?

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