No decorrer de uma ilustrativa conversa sobre reminiscências adolescentes, fui devidamente informado que “papo cabeça” caiu em desgraça. Não se usa mais nem a nomenclatura - o que dirá o ato em si! (Mas, não era exatamente o que estávamos fazendo...?)
Ocorre que sou um saudosista do papo cabeça. Minha teoria é que fomos, todos, contaminados pela urgência, pelo atribulado dia a dia de nossas tão atarefadas vidas e, insuflados pela mídia em geral (que paga qualquer preço para que paremos de pensar), colocamos o papo cabeça no fundo da gaveta - ao lado do pinguim da geladeira.
O que significa que ainda há esperança. O papo cabeça pode voltar como uma coisa, sabe assim, “kitsch”?!
Claro que, num papo cabeça que se preze, existem procedimentos a serem observados.
Pra começar, um papo cabeça ideal comporta quatro pessoas. Dessas, a metade deve ter opiniões antagônicas; melhor ainda se forem dois casais onde as mulheres discordarão firmemente dos homens e vice-versa mais ainda.
O assunto não interessa. Pode ir da importância da embalagem de desodorante na masturbação feminina ao último escândalo do planalto central. Fundamental é que o assunto seja esticado, deturpado, adulterado até que ninguém mais saiba como começou. (É evidente que tudo deve ser regado à cerveja ou vinho ou o que quiserem, acompanhado de muitos tira-gostos que poderão, dependendo do rumo da conversa, ser utilizados como armas.)
Normalmente o assunto deve descambar para algo próximo - porém suportável - à terapia de grupo; onde são reveladas idiossincrasias várias, surpresas por coincidências inesperadas, mal disfarçado asco por discordâncias atávicas, mas, no geral, acabam todos saindo satisfeitos, com a sensação de uma noite agradável e com um monte de coisas pra pensar no dia seguinte. (As que sobreviverem à densa névoa das lembranças embaçadas pelo álcool e sentimentos diversos.)
De qualquer maneira, seguidas as convenções sociais básicas, o resultado vai sempre ser, sem sombra de dúvida, da melhor qualidade.
Complicado é arrumar quem concorde...
Eu concordo, Tiago! E tenho certeza que a Méri também. E, é claro, não pode faltar o cigarro, o uísque e, antes de ir embora, o cafezinho.
ResponderExcluirCigarro, uísque, cafezinho são boas "acrescentâncias"!
ResponderExcluirQuanto à concordância da Dona Méri, há controvérsias.