terça-feira, 9 de junho de 2009

PELADA DE VELHO

Vê lá se isso é título que se apresente.
Mas, é o seguinte: sou um eterno apaixonado pelo futebol. E hoje em dia, dada a escassez de bons jogos - exceto, muito de vez em quando, os do Flamengo - me dedico mais a acompanhar futebóis alternativos. Ou seja, várzea, futebol de praia, futsal (olha a que ponto chegamos: o nosso querido futebol de salão reduzido a futsal...) Mas, sortinha, bem debaixo da minha janela, sou contemplado com uma urbana quadra de futebol da melhor qualidade. Goleiro e quatro ou cinco na linha, 14 refletores, cercada de rede em cima, no fundo e nas laterais, grama sintética, vestiários, sauna e bar. Chique. Coisa de zona sul. Então, fico de arquibancada (muito alta, 19o. andar, mas satisfatória e confortável – posso fumar e beber sem que ninguém me encha o saco) assistindo nossos craques do futuro, do presente e do passado.
É certo que todos estão ali fazendo o seu melhor, “dando tudo de si”, etc, etc. Entretanto uma coisa fica clara. Pelada de velho é muito melhor de assistir. Eles tocam a bola enquanto a garotada está imbuída do espírito de alta competição que assola nossos tempos. Ou seja, o abandono do raciocínio, da busca da melhor jogada, em prol da frenética correria, chegar junto, deslealdades burras e outras besteiras hodiernas.
É interessante notar a diferença de comportamento conforme a faixa etária. Numa pelada de jovens a gritaria é constante, a correria é desenfreada e a qualidade é tão fugidia que sentimos sempre falta do replay. Não que a jogada tenha sido espetacular e deixado saudades. Mas sim porque tudo o que acontece é tão insosso, inodoro e incolor que dá vontade de ter um replay pra ver se alguma coisa se salva. Numa pelada de velhos você adivinha o jogador pensando, buscando uma opção mais inteligente do que correr alucinadamente e acabar na tentativa de um passe óbvio que sempre, sempre sai errado. Outras diferenças são a qualidade no trato na bola, a categoria no domínio, os gritos nas horas certas e a cadência que fazem o espectador curtir o jogo quase tanto quanto os jogadores. Nessas a gente sente falta não do replay, mas do vídeo inteiro.
O que dá a pensar: nós, os que já fomos jovens e ainda conseguimos nos lembrar das sensações de então, temos que concordar que nosso ritmo era muito mais acelerado do que o dos “velhos”. Assim como os de hoje em relação a nós. Aí eu te pergunto, arguto leitor: -Será? Você não tem a impressão de que nossos jovens jogadores estão acelerados demais e pensando de menos? Você não tinha a impressão de que o Zidane era um jogador lento? Entretanto foi um dos maiores gênios futebolísticos dos últimos anos. Ou não? Será que ele não foi uma exceção que deveria nos fazer pensar? Porque você, prezado leitor de mais de 40 anos, que com toda certeza se lembra de coisas inacreditáveis presenciadas num campo de futebol, me diga com franqueza: -Você tem visto, regularmente, algum jogo como, regularmente, víamos antes? Ou já se acostumou com a mediocridade reinante e suspirou “É assim mesmo... Que se há de fazer?”.
A resposta, claro, deve ser essa mesma: -É assim mesmo, os tempos são outros, evolução (?!?) e pá pá pá.
Não acho, não. Acho que falta, na galera que vive do futebol, uma atitude mais oriental (os orientais são aqueles loucos que, entre outras coisas, costumam plantar uma árvore que só vai crescer muito depois de eles terem morrido). Ou seja, plantar uma filosofia que garanta a manutenção da qualidade no futuro e não simplesmente aceitar a mediocridade presente porque “é assim mesmo”.
Concorda? Tomara que não. Tomara que você ache tudo isso uma grande bobagem e fique revoltado. Já ouviu falar daquela situação onde os dois times entram em campo, com o estádio lotado e ninguém aplaude, ninguém vaia, ninguém se manifesta, ninguém xinga nem o juiz? Indiferença total. Sabe o que acontece depois de alguns minutos? Os dois times, atordoados, abandonam o campo e voltam para casa. Porque a favor ou contra, é ruim de jogar sem torcida.

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