quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A SAGA DA CNH

Em 2008 minha carteira de motorista venceu e deixei pra lá.

Em 2012 achei que já estava abusando da sorte e fui renovar no Detran de Belo Horizonte. Levei uma semana entre idas e vindas, filas intermináveis, taxas diversas, exames em clínica 'conveniada', foto em fotógrafo 'conveniado' e tudo mais que os zelosos leitores já estão cansados de saber.

Pois bem, o tempo passa, o tempo voa e mês que vem vence a bendita carteira de novo. Só que agora estou em João Pessoa...

Saio cedo e vou a um posto do Detran pertinho de casa.
Sou informado que, como minha carteira é de outro estado, tenho que ir ao Detran Central para fazer a transferência e a renovação.

Mole pra nós. São só 12 km passando por paisagens da melhor qualidade.
Lá chegando, tudo lotado, difícil de arrumar vaga pra estacionar. Acho uma e pergunto onde é a renovação de carteira. Bloco C.

Encontro o bloco, pergunto de novo e sou encaminhado a uma sala cuja recepcionista me informa que a primeira coisa a fazer é xerocar a antiga.
A xerox fica ao lado e sou atendido por uma senhora gorda agitada e muito bem humorada. Ela me explica que também é necessário comprovante de residência.
Mífu, digo eu.
Ela nem se abala: -"Vá ali, procure Nanda e diga que Cida pediu que ela lhe faça a declaração de residência."

Vou lá, acho a Nanda, falo da Cida, a Nanda olha sobre meus ombros, me viro e lá está a Cida acenando.

Feita a declaração, a papelada vai "lá pra dentro pra passar na primeira tela" – seja lá o que isso signifique.
Passada a tela, é preciso pagar a taxa. Logo ali no Pag-Fácil.
Chego ao local e dou de cara com um cartaz: "Pagamentos só em dinheiro".
Mífu de novo.

Cida me aconselha a ir a um shopping pertinho.
Pego o carro e vou ao shopping pertinho à caça de um caixa eletrônico. Ainda faltam cinco minutos para o shopping abrir, tempo para um cigarrinho.
O shopping abre, uma fila de seguranças e recepcionistas aplaudem os felizes consumidores, disfarço a vergonha alheia e pergunto a um deles sobre o paradeiro da bendita máquina. Logo ali.
Saco a quantia, volto ao Detran, pago a taxa no Pag-Fácil (?!) e entrego a papelada que vai "lá pra dentro pra passar na segunda tela". Nem me atrevo a perguntar o significado dessas telas e fico só na torcida para que o sistema continue sistemando.

Mais um tempo, me chamam, me entregam a papelada e me informam que devo ir pegar uma senha para cadastro.

Encontro o lugar, pego a senha (P275), e rapidinho sou chamado ao guichê.
O cidadão confere a papelada e me pergunta se sou doador de órgãos. Respondo que não e comento:
-"Até que seria uma boa. Como é que faz pra ser doador de órgãos?"
-"Não tenho a menor ideia. Só estou lhe perguntando porque tenho que perguntar.", responde o cidadão rindo de orelha a orelha.

Tudo certo, retorno à primeira sala não sem antes tropeçar na Cida.
-"Pagou? Tá tudo certinho? Corra de volta lá em Nanda!"

Ela checa a papelada e...
-"Agora vá ali, pegue a senha da fotografia."

Pego a senha, sou chamado e, depois de conferir toda a papelada, o cidadão diz preu me aprumar e me fotografa.
Não contente, tira todas as minhas impressões digitais que são conferidas eletronicamente. Depois me estica uma pranchetinha para eu dar meu autógrafo.

-"Agora vá ali para o exame médico."
Uma doutora agitada e prestativa me empurra um formulário para ser preenchido. No estilo daqueles de visto para os EUA, manja?
Usa drogas ilícitas?
> Consome álcool descontroladamente?
E por aí vai. Só faltou aquela pérola:
Planeja algum tipo de atentado terrorista?
Tira a minha pressão - sou informado que ela está ótima - e me encaminha ao exame de vista.

Outra doutora, esta mais burocrática, me pergunta:
-"Já foi operado?"
-"Já."
-"De quê?"
-"Fimose."

Ela fecha a cara e me põe pra ler aquelas letrinhas que fazem lembrar a piada do polonês quando o doutor pergunta se ele está vendo as letras e ele responde: "Claro! Esse cara é meu amigo!"

A doutora carimba, assina, etc e me manda de volta à Nanda.
Ela dá uma olhada rápida, destaca um protocolo e diz:
-"Pegue na 2ª. feira. Mas, pode ser que amanhã à tarde já esteja aqui."

Vou saindo, passo pela Cida.
Agarro as bochechas dela e sapeco-lhe um beijo na testa.
-"Ô amado! Deu tudo certinho? Que bom! Vá com Deus!"

Transcorridas exatas duas horas e dezessete minutos, vou embora com tudo resolvido. Ao passar pela descida do Cabo Branco, ainda manhã de sol, o mar arrepiantemente lindo, continuo rindo dos que não conseguem disfarçar um certo desdém quando digo que estou morando em João Pessoa.

9 comentários:

  1. Pai, vc é doador de órgãos? Para ser você tem que me informar.. Que aí qndo vc empacotar, mando ranca tudo q ainda dá pra aproveitar e doar para os pobres e oprimidos!!!! Chá cmg!

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    1. Minha teoria é a seguinte: até este ponto da 'doação de órgãos' o texto tem infindos 2.595 caracteres; o que supera em muito os 140 suportados pelas mentes atuais.
      Assim sendo, muito deve ter se perdido na compreensão 'djóvem'.
      E como esse comentário já supera em 211 os limitantes 140, tenho dúvidas quanto ao total entendimento...
      Ô Bogoiô! Tome tento!

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  2. Vc não entendeu... Foi uma dívida que surgiu ao longo do texto!! Indifere do assunto central e do personagem principal!!

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  3. Agoooora, o comentário referente ao citado escriptun: quanté pra tirar carteira aí heim???? As coisas por aí parecem sistemas muito mais doq nas bandas de cá... (E sistemam com um sútaque arretado!)

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    1. Não sei quanto custa tirar a carteira.
      Renovar e transferir ficou em 250.
      E, sim: 'sistemam' com um sutáqui arretado e a gente ganha o dia!
      Bjs.

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  4. Sorte sua, joãopessoense! Normalmente, os atendentes do DETRAN mineiro lavam as suas mãos naquele modelo de baciinha então usada por Pôncio Pilatos.
    Vitor Lemos

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  5. Pois é. Imagina o (ótimo) susto que tomei com a presteza e a gentileza da galera!

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