A propaganda mineira tem uma história antiga sobre João Moacir de Medeiros o "JMM" (grande agência em outros tempos) cujo, em Belo Horizonte, numa reunião de apresentação de campanha para o Banco Nacional (acho), teria iniciado, com pompa e circunstância, dizendo "Nóishsh, Mineiroshsh..."
num inconfundível sotaque carioca.
O que remete ao excelente artigo do Paulo Nogueira no DCM sobre o 'garoto do Leblon'.
(http://www.diariodocentrodomundo.com.br/carta-aberta-a-aecio-neves-por-paulo-nogueira/)
Caro
Aécio:
Que
diferença um ano e meio faz, hem? Lembro você fazendo uma campanha à base da
palavra corrupção contra Dilma.
Você
chegou a empregar a expressão mar de lama, a mesma com que o corvo Lacerda martelou
criminosamente Getúlio até levá-lo a dar um tiro no peito.
Você se
comportava como um cidadão acima do bem e do mal, um homem tão incorruptível
como Robespierre, um exemplo de retidão como o romano Catão.
Uns
poucos sabíamos que era uma mentira mantida pelos barões de imprensa. Eles
simplesmente mandavam não publicar nada que afetasse sua imagem de homem de
elevados princípios morais.
Mas
agora seu “esquema” é de domínio amplo, geral e irrestrito.
A já histórica
delação de Sérgio Machado citou-o não uma, não duas, não três — mas quarenta
vezes.
Machado
disse que lhe deu os meios para financiar a campanha de 50 deputados,
quantidade suficiente para lhe dar a presidência da Câmara no final dos anos
1990.
Isto faz
de você um elo entre seu mentor, FHC, o homem que comprou os votos para poder
ser reeleito, e Eduardo Cunha, que também financiou a campanha de deputados e
com isso virou, como você, presidente da Câmara.
Outros
delatores também mencionaram você. Delcídio, por exemplo, falou de Furnas. Sua
irmã, Andrea, foi outro nome frequente.
Uma das coisas que ela fez foi, quando
você governava Minas, transferir dinheiro público para os veículos de mídia da
família.
Caro
Aécio: isto é indecente. Mas ninguém lhe cobrou. E é fácil de entender: você
destinava uma bolada publicitária à Globo, e os Marinhos pensam nisso e só
nisso.
Você
está em todas.
Isso
quer dizer que você, politicamente, é um morto que anda. Todas as denúncias
serão lembradas em qualquer debate do qual você participe. E você não terá
resposta. Sua campanha girou em torno da corrupção dos outros. O problema agora
é sua própria corrupção.
Você se
transformou numa farsa, em suma. Como aqueles pastores americanos que
condenavam a homossexualidade durante o dia e à noite se esgueiravam em pontos
gays.
Você foi
desmascarado.
E no
entanto foi você mesmo quem deflagrou o processo que o triturou ao se comportar
como um homem mimado, estragado, que não sabe aceitar a derrota.
Tivesse
a elegância mínima de aceitar a vitória da adversária, estaria em boa situação
hoje para as eleições presidenciais. Seus 50 milhões de votos eram um grande
cacife para uma segunda tentativa.
Mas não.
Inventou pretextos sobre pretextos para subverter as urnas. Deu as mãos a
Eduardo Cunha no trabalho sujo contra a democracia e contra Dilma. Contratou uma
desvairada como Janaína Paschoal para elaborar um projeto imundo de
impeachment.
Tudo foi
muito bem para você — até ir muito mal. Seu nome começou a aparecer nas
denúncias de roubalheira, e não saiu mais. Já não era apenas o aeroporto
particular construído com recursos públicos perto de sua casa de campo. Eram
coisa muito mais graves.
Você,
numa palavra, se ferrou.
É hoje
motivo de desprezo, ódio, rejeição ampla, geral e irrestrita.
Você
confiava que mesmo que os delatores citassem você a imprensa daria um jeito de
suprimir as menções. Mas você prevaricou tanto que nem a Globo conseguiu manter
você fora do noticiário.
E olhe
que a Globo foi aparelhada por você. O chefe de política do jornal Globo em
Brasília, Paulo César Pereira, é seu parente. O laço foi reforçado: você é
padrinho de casamento de Paulo. A mulher de Paulo é Andrea Sadi, repórter de
política da GloboNews. Sua afilhada, portanto.
Joseph
Pulitzer, o maior editor da história para muitos, dizia que jornalista não
podia ter amigos, ou isso deformaria o seu trabalho.
Que você
acha disso, Aécio?
Montaigne
disse que a maldade traz seu próprio castigo. Você foi mau ao conspirar contra
Dilma. E o castigo está aí.
Falta
apenas uma coisa: uma tornozeleira.
Vejo em você uma perna à espera de uma
tornozeleira.
Sinceramente.
Paulo