Que o carnaval é
vendido, é notícia requentada.
Mas, já que
estão com tanta grana, os caras podiam, pelo menos, caprichar mais um pouquinho.
Diz aí, carnavalesco
leitor: qual o mais recente samba enredo que te vem à memória?
... É ruim, né não?
Então, segue a
do momento:
Ditador africano compra samba enredo
do
Carnaval por US$ 3,5 milhões
Por Bloomberg |16h15 | 13022015
Na semana
passada, os responsáveis pelo maior carnaval do mundo usaram vassoura e água
benta e, em um ritual tão antigo quanto o Brasil, esfregaram o chão da
passarela.
Quando a folia
pré-quaresma começar no Sambódromo do Rio de Janeiro, neste fim de semana,
outro ritual também estará em exposição: a lavagem de reputações.
Dê uma olhada
no desfile da noite de segunda-feira, no qual a escola de samba Beija Flor, 12
vezes campeã do carnaval carioca, cantará as glórias da Guiné Equatorial.
Saudar a Mãe África
é uma tradição secular no Brasil, lar da maior população de descendentes
africanos das Américas.
Mas ao cantar
para o presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, um ditador
com um fraco pelo samba e uma ficha cheia de violações aos direitos humanos, a
Beija Flor colocou o gênero uma oitava acima.
Então, o que são
algumas execuções sumárias e prisioneiros torturados entre amigos? Afinal de
contas, custa caro colocar na avenida um grupo de mais de 4.000 dançarinos e
percussionistas e uma frota de carros alegóricos em uma apresentação ao vivo
com uma produção do nível da Broadway?
A Beija Flor, que
recebeu R$ 10 milhões (US$ 3,5 milhões) de Obiang, foi apenas a última escola
de samba a hipotecar seus paetês em troca de patrocínio.
O carnaval
moderno do Brasil nasceu no pecado, décadas atrás, quando os chefes do jogo do
bicho decidiram financiar o talento das favelas, onde o samba nasceu. As
favelas ganharam plumas de avestruz e tambores, enquanto os bicheiros lavavam
suas reputações.
Acrescente fotos
com prefeitos e celebridades e um poleiro de um carro alegórico de cinco
andares, e o ciclo de centrifugação estava completo. Como me disse Nelson Motta,
escritor especialista em música popular, “A
tradição do Carnaval diz que o dinheiro não tem cor, nem origem, nem bandeira.
As pessoas fazem vista grossa”.
Mas quando as
festas dos blocos se transformaram em show business, a corrida pelos
endinheirados se tornou intensa.
As empresas de cerveja foram as pioneiras
entre as companhias, combinando as vendas de bebidas com o marketing de inserção
de produtos no Sambódromo, reportou Ricardo Noblat no jornal O Globo. Empresas aéreas,
fabricantes de carros e siderúrgicas seguiram o exemplo. Não demorou para
que o governo entrasse em cena. As arquibancadas lotadas e a audiência
televisiva global ofereceram o quadro perfeito para iniciativas políticas, sem
importar quão duvidosas fossem, com o dinheiro do contribuinte.
Os estrangeiros
entenderam rapidamente.
Em 2006, Hugo Chávez
derramou alguns petrodólares na Vila Isabel para que a escola dançasse para a
ambiciosa revolução bolivariana, e a escola foi campeã. A canção tema? “Soy
Loco Por Ti, América”.
Dois anos
depois, Portugal entrou na festa, contratando quatro escolas de samba
diferentes para cantar sambas sobre o bicentenário da chegada da monarquia ao
Brasil. Nenhuma delas fez piada sobre o imperador.
O Carnaval é ótimo
para esse tipo de generosidade. Se dançar para ganhar fortunas sem se importar
com quem está sendo retratado tornou o concurso melhor, isso já é outra questão.
“O Brasil desenvolveu a especialidade de
acolher os tiranos”, disse Motta. “Isso
faz com que os antigos bicheiros do carnaval pareçam apenas pitorescos”.
Para ser justo,
os compositores da Beija Flor musicaram e escreveram seu próprio samba, um emotivo
panegírico ao griô figura mística do filósofo contador de histórias venerado em
boa parte da África Ocidental.
Para se garantir, contudo, Obiang examinou a letra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário