quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

COCOPI

Então estamos combinados: nesta memorável noite, nós, fundadores do COCOPI, formalizamos a primeira versão do digo de Conduta Pública dos Intelectuais.
Nosso código tem por objetivo orientar, normatizar e regulamentar as posturas dos intelectuais perante diversos fatos inerentes ao nosso cotidiano profissional e social.

Antes das assinaturas, vamos a um panorama dos principais tópicos:

Como exemplo profissional, o uso indiscriminado do perfil psicológico em que o personagem “vive num quarto que é uma completa bagunça mas, em segundos encontra tudo o que quer” deve ser desprezado, no mínimo, até o próximo século. Se a trama for policial, até o próximo milênio. (Nem Hollywood, seus sonhadores, aguenta mais.)

A postura profissional recomendada é patrulhar e espalhar para todos os conhecidos (ainda que veladamente) a ocorrência da ignomínia.
Socialmente recomendamos a ironia linear: um leve arquear de sobrancelhas podendo ser seguido de “Meio batido, não é?” dito de maneira singela. (No ambiente certo proporciona resultados assombrosos.)

Ainda no aspecto profissional, consideramos os textos anônimos, que circulam na internet, passíveis de pena. Explica-se: pena dos que os divulgam achando que assim atingem, por parte dos pobres destinatários, um grande reconhecimento de intelectualidade e pena dos autores (?) que correm a utilizar os mesmos meios para dizer “Olha, gente, esse texto é meu, viu?”.
A postura profissional recomendada é, simplesmente, ignorar.
Socialmente recomendamos a ironia oblíqua: um acusatório arquear de sobrancelhas seguido de um “É meeesmo...? Tem certeza...?” com as reticências gotejando no tapete.

Prosseguindo, algumas situações sociais merecem nossa atenção:

A primeira é a reunião composta de “Pessoas com Nível Cultural Muito Abaixo do Nosso”. Esta situação se subdivide em “Pessoas com Nível Cultural Muito Abaixo e Financeiro Muito Acima do Nosso” e “Pessoas com Nível Cultural Muito Abaixo e Financeiro Mais Abaixo Ainda do Nosso”. (Argh!)

No caso de nível cultural muito abaixo e nível financeiro muito acima do nosso, é hora de, falando o português correto, soltar a franga, arrasar nas tintas, arrebatar o arrebol. Ou seja, essa é a oportunidade! Daí pode surgir uma grande jogada. Eles adoram parecer íntimos, aproveite. Aquele seu projeto bobo e inviável é perfeitamente patrocinável! É só devolver 20 ou 30% da verba do incentivo...

No caso de nível cultural e financeiro muito abaixo do nosso, o que você está fazendo aí? Esse papo de raízes já deu o que tinha que dar. (Calma, Motinha! Não adianta reclamar, a realidade é essa.)

A segunda situação contempla as reuniões compostas de “Pessoas com Nível Cultural Próximo ao Nosso”. Também se subdivide em duas: “Pessoas com Nível Cultural Próximo e Financeiro Muito Acima do Nosso” e “Pessoas com Nível Cultural Próximo e Financeiro Muito Abaixo do Nosso”.

No caso de nível cultural próximo e financeiro muito acima, cautela. Além de perigosos, eles podem ser destrutivos. São predadores naturais. Irão nos sugar toda a seiva do saber e nos atirarão na sarjeta como um bagaço de laranja. (Em todos os sentidos, se você se meter a espertinho.)

No caso de nível cultural próximo e financeiro abaixo, arrojo. Seja pernicioso, jogue no ar as promessas mais mirabolantes e sugue deles tudo o que puder sem esquecer de, ao final da festa, atirá-los na sarjeta como bagaços de laranja que são.

A terceira e última situação trata da reunião composta de “Pessoas com Nível Cultural Acima do Nosso”.
- Silêncio, por favor! Eu sei... Eu sei... Claro que elas não existem! É só uma brincadeira! Motinha, quer parar de chutar a mesa?

3 comentários:

  1. Rã! Eu suspeitei desde o princípio! mas eu tõ com o Motinha e não abro: "Pra mim sobrou o bagaço da laranja o bagaço da laranja".

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  2. I did back: What? Não aceitam mais filmes da Mary Poppins em hollywood? Isso não é nada supercalifragilístico. Motinha tem razão, mais um vez...

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  3. Não vou tentar entender e, muito menos, explicar...

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