O problema é que, para essas coisas, é preciso ter muita paciência. E quando Deus distribuiu esse dom divino, eu já devia estar correndo para o recreio e perdi minha cota.
Se não, vejamos: dia desses fui gentilmente obrigado a abrilhantar, com minha modesta presença, uma dessas famigeradas reuniões sociais.
Aí, um cidadão começa a discorrer sobre a insegurança que reina nas grandes cidades, sobre a criminalidade, sobre estupros, assaltos, etc. Todos concordam que a situação está complicada. O cidadão se empolga, passa a defender o extermínio puro e simples de todos os malfeitores e termina, é claro, declarando sua grande saudade da ditadura, dos militares, "porque naquela época não tinha nada disso"
e todos os clichês que estamos cansados de ouvir.
Levantei, fui buscar uma cerveja, tentei me encaixar numa outra roda, mas não fui feliz. Voltei ao comício e, impressionante, pareceu que a conversa tinha sido congelada durante minha ausência. Ou seja, as pessoas estavam repetindo e repetindo o que já havia sido dito.
E ainda nem haviam sido consumidas as quantidades de cerveja que justificam essas repetições.
E lá seguia o cidadão inflamado, vários concordando e eu
fazendo cara de paisagem.
Então, comecei a ponderar comigo mesmo:
• Ora bolas, um cara, pra ter saudades dos militares, só pode ser de avançada faixa etária. Afinal, como ter saudades de uma coisa que você não viveu?
• Na década de 70 o Brasil tinha 90 milhões de habitantes e 5% (4.500.000) tinham mais de 60 anos; hoje já passamos de 200 milhões e 11% (22.000.000) tem mais de 60 anos. Ou seja, enquanto a população em geral cresceu 2,2 vezes, os idosos aumentaram em 4,9 vezes.
• Numa estimativa que espero ser pessimista, vamos considerar que metade dos idosos de hoje pensem como o cidadão saudoso de Médicis, Costas e Silvas, Geisels et caterva. Eles somariam então,
11 milhões de velhinhos loucos por fuzilamentos, tradição, família e propriedade.
Perigo, hein?
Pra terminar, segue um trecho primoroso do Sandro Vaia:
“Uma prova de que a
democracia brasileira ainda é jovem e imberbe e que o país precisa tanto de heróis
quanto de vilões porque ainda não aprendeu que não é com picos de adrenalina
que se constrói um País mais justo, mais equânime e mais democrático. A Nação
só poderá orgulhar-se de estar madura para a democracia quando não precisar
mais da sirene do batmóvel para anunciar que alguém está correndo atrás do
Coringa.”
Há uma diferença entre ser antissocial e escolher companhias, né...
ResponderExcluirE às vezes é difícil conseguir fazer só uma "cara de paisagem" (gostei)!
E tem mais uma diferença: a queda do hífen.
ResponderExcluir"Antissocial" é bem mais macio do que "Anti-social"...
Abs.
É, Tiago, tenho esse mesmo problema. Mas acredito que não sou antissocial. Só não tenho muita paciência com pessoas a quem Deus poupou da tormenta do raciocínio e do dom do bom senso.
ResponderExcluirEu também sou norrrmaaalll!!!
Excluir(eh, eh, eh)