domingo, 8 de janeiro de 2012

POR QUÊ, RAPHAELLA?



Depois de algumas horas confinados numa moderna lata de sardinhas, aterrissamos em João Pessoa. Amavelmente recepcionados (acho muito chique ver meu nome na plaquinha), somos embarcados num micro-ônibus com ar condicionado, musiquinha ambiente e a indefectível e falante guia com um impagável sótaque nordéstino que nos brinda com diversas informações inúteis e a grande questão:

-Nossa bandeira tem a palavra Nego. Vejam bem, não é nÊgo. É nÉgo. Aí vocês perguntam: “Por quê, Raphaella?” E eu respondo: “Vocês só vão saber quando fizerem o nosso espetacular cititúr que sai amanhã às oito e dez da manhã!”

Dou uma olhadinha de esguelha para a madame e confirmo meus pensamentos. É ruim, hein? Pi-ri-go da gente, em plena folga, acordar a essa hora da madrugada pra fazer cititúr!

Nosso hotel é o último da lista e minha mala sumiu. (Ainda bem que foi a minha...)
-“Por quê, Raphaella?”
Ela mata a bola e entrega de primeira: -“Por quê, Adroaldo?” (Adroaldo é o atordoado motorista e arrumador de malas do buzunzim).
-“Deve de ter ficado no Tambaú Fléti. Aquele monte de gente desceu e a mulé falou que todas as que tinha fita vermelha era deles...”
Então, voltamos ao Tambaú Fléti. Telefonema para o quarto da grande família, filho envergonhado trazendo a mala, pedindo desculpas, tudo resolvido, chego são e salvo ao hotel, babando por cerveja e praia.

Inacreditável cidade é João Pessoa. Povo descansado, tranquilão mesmo, não se ouvem buzinas. Saí do hotel pra comprar cigarro e fui atravessar a rua; vinha um ônibus, o motorista piscou o farol e parou preu atravessar! Tô abestalhado até agora...

Praia civilizada, com espaço, sem sambinha, mar maravilhoso, areia branca, cerveja gelada e barata, chateação só a dos praticantes de frescobol - que se acham os donos do pedaço. Mas, não conseguem atrapalhar meu conceito de filial do paraíso.

-“‘Bora ficar pelado em Tambaba?”
Não mereci nem resposta.

Ponta do Seixas (só estive mais perto da África quando fui ao Egito) e depois praia do Jacaré pra ver o cabeludinho tocando o Bolero de Ravel. Tremenda roubada. Um monte gente atulhando os bares em volta, barcos e mais barcos lotados, o cara vem numa canoinha e finge que toca. Os bares botam o famigerado bolero em gravação. Só vale o visual do por do sol.

Incontáveis prédios em construção.
–“Por quê, Raphaella?”
–“A cidade está crescendo...”

Ora bolas! Depois dessa elucidante resposta concluo que o melhor a fazer é seguir o conselho da vendedora de salgadinhos na praia:
-“Dégústi!”.

10 comentários:

  1. Feliz Ano Novo! :)

    Curti o texto, quentinho, saindo da areia, de debaixo do Sol! Que bom que a praia te tratou bem!

    Que venha um 2012 atualizado quase todo dia (e eu tentarei seguir o exemplo... pi-ri-go!)

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  2. Fico tbm feliz em saber que o teratológico amigo do coração saiu daqui para descansar em uma das versões de paraíso, em nossos conceitos. Ruim, de verdade, é fazer Tiago Alvez da Cruz pular da cama antes do meio dia. Quem não sabe disso?? Vc saiu para comprar cigarros. Para com isso meu!!!
    Abç. DuduGouvêa

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  3. Maria Paula,
    a preguiça anda tanta que eu já estou pensando em seguir o SEU exemplo e fazer daqui um "devezemquandário"...
    Bj.

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  4. Dudu,
    versão do paraíso mesmo!

    Quanto ao cigarrim... "Tem jeitu não, visse"?
    Abs.

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  5. Já que a Raphaella não respondeu e nem o autor do blog,a origem do "nego" na bandeira da Paraíba remonta da negativa de João Pessoa, em aceitar a continuidade da politíca do café com leite na década de 30.

    Já seus adversários políticos,diziam que o objetivo do nego na bandeira,era informar aos credores,algo semelhante à velha frase"Devo não nego,pago quando puder"rsrsrsrs
    Abs,
    Mamba Buticária

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  6. Nada como ter um odonto-sádico-especialista de plantão! (A Raphaella que se cuide...)
    Abs.

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  7. Tiago, apareci!
    Será que você nunca encheu o saco de ninguèm na praia, ou com frescobol ou mesmo com "controlinho" de futebol?
    Se me lembro bem: SIM!!!
    Luiz Celso.

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  8. Grande Luiz Celso!
    Você tem parte de razão.
    Com frescobol nunca enchi o saco de ninguém porque desde muito tempo é proibido no Rio em horários de praia cheia.
    Agora, com "controlinho", procede. Era bolada seguida da cara mais lambida pedindo desculpas, etc.

    Some não, cidadão!
    Abs.

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  9. Curti demais o texto! Feliz 2012!

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  10. Pra você também, Cláudia!
    (E o braço, já consertou?)

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