quinta-feira, 29 de março de 2012

BAIXARIAS ANTIGAS (?)

Esse artigo foi escrito em abril de 2001. E, é claro, continua atual.

RedeTV - Um ser humano do sexo feminino, codinome Edinalva, se propõe a testar a fidelidade de um pobre coitado que, a princípio, é seu companheiro. Tudo acontece num quadro intitulado Teste de Fidelidade.
Mais imbecil, impossível. O casal é, conforme a classificação sócio-econômica ABA/ABIPEME, classe D, 25 anos (o xodó das emissoras de televisão). E, conforme a classificação inconsciente dos espectadores: inferiores, pardos (brasileiros), jovens, pobres e noivos!

A armação acontece numa lanchonete: o cidadão está lá no seu almoço, sozinho, quando aparece uma mulher branca, alta, gostosona, trajando shortinho e top, tal e qual uma atriz pornô, puxando conversa e induzindo o pobre coitado a situações que ele nunca sequer imaginou em suas mais ousadas fantasias masturbatórias.

Imagine, caro leitor: você, no seu dia a dia, perdido no intervalo entre as chatices da manhã e da tarde, e, do nada, aproxima-se uma mulher te provocando de todas as maneiras possíveis, incluindo “Você me acha gostosa? Apalpa minhas coxas...! Apalpa minha bunda...!”

Após toda essa grande sacanagem, com direito a interrupções do apresentador, cinicamente preocupado com a situação emocional da corna antecipada, a Edinalva: “Não chora não... Nosso programa não tem essa intenção...” São intercaladas imagens da “modelo” contratada, se insinuando, se exibindo de todas as formas possíveis, visando a sedução fácil, imediata. Ao sugerir, explicitamente, um encontro fora do ambiente público, a vaca pergunta ao bobão se ele conhece a Edinalva. Ele, idiota, responde que sim, mas, ressalva: “Não tenho nada a ver com ela”.
Justiça seja feita: trata-se de um sexopata imbecil, pois ao não sacar - a partir de uma pergunta tão pessoal feita por uma desconhecida com predicados de musa-pornô, para ele, um completo zémané - que isso seja um sinal de que algo está errado, é porque a cabeça de cima parou de funcionar. Mas acontece.

Vida que segue, o desgraçadinho, de novo, nega qualquer envolvimento: “Edinalva? Aquela chata? Nãããão!” E aí a vagabunda informa ao infeliz que ele está sendo filmado e que tudo era um “Teste de Fidelidade”. Nessa altura, o apresentador-pulha está fazendo caras e bocas de ofendidinho: “Meu Deus, quêqueisso? Onde vamos parar?” E aconselhando à babaca e lacrimosa Edinalva - que é totalmente cúmplice da situação - a pensar bem antes de seguir com esse relacionamento.

Não nos enganemos. Todos eles, a Edinalva, o noivo imbecil - que no final do programa aparece com um buquê de rosas tentando reconquistar a futura “mãe de seus filhos” - são porcamente remunerados pela produção do programa.
E isso só reflete a situação em que nos encontramos. Pensemos, queridos leitores: não adianta achar que somos todos geniais e que povo é assim mesmo. Todos somos responsáveis pela imbecilidade alheia. Se todo mundo admite esse tipo de programa, estamos assumindo que eles são representantes das mentes brasileiras.

(Hoje, onze anos depois, trocaram-se as moscas...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário