Tenho certeza que ninguém vai ler (Textão... Preguiça...), mas faço questão de registrar.
(Shobhan Saxena is a Sao Paulo-based journalist. He is the first Indian journalist to live and report from South America)
Há golpe no ar:
O complô para desestabilizar Dilma
Rousseff, Lula e o Brasil
Partidos neoliberais, mídia comercial, Judiciário conservador,
lobbyistas das petroleiras, elite branca e grupos de direita, com ajuda
abundante que vem de fora do país, reuniram-se em gangue para derrubar o
governo do Brasil. E a coisa está sendo feita de modo a fazer crer que teria
havido um levante popular contra regime corrupto.
São Paulo: Em novembro de 2009, The Economist põe o Brasil na capa.
"Brasil Takes Off" [Brasil decola], diz a manchete, sobre
uma foto do icônico Cristo Redentor, como se decolasse sobre o mar azul, feito
uma nave espacial. Prevendo que "o Brasil está a caminho de tornar-se a 5ª
maior economia do mundo, deslocando a Grã Bretanha e a França", a revista
dizia que a maior economia da América do Sul deveria "tomar maior
velocidade nos próximos cinco anos, com a ativação dos campos de petróleo de
mar profundo, e os países asiáticos ainda famintos de alimento e minérios da
vasta e dadivosa terra do Brasil."
Em 2009, mesmo com o mundo ainda convalescendo de uma catastrófica crise
financeira, The Economist viu o Brasil como a maior esperança do capitalismo
global.
Naquele momento, a revista britânica não era a única apaixonada pelo
Brasil. Sob a liderança de Lula da Silva, o país testemunhava prosperidade sem
precedentes e mudança social. A própria ascensão pessoal de Lula, de menino
pobre e empregado metalúrgico à presidência do maior país da América Latina era
material do que se enchem as lendas. Foi tema de vários livros e de um filme de
sucesso. Na reunião do G-20 em Londres, em abril de 2009, o presidente dos EUA
Barrack Obama disse dele que era "o político mais popular da Terra".
E dois dos maiores espetáculos esportivos – a Copa do Mundo da FIFA (2014) e as
Olimpíadas (2016) – marcados para acontecer no país, o Brasil, há tanto tempo
conhecido como "o país do futuro", pareceu estar chegando finalmente
ao centro do palco global.
Sete anos adiante, o Brasil já parece um país completamente diferente.
Lula, que concluiu o segundo mandato em 2010, com aprovação de 80% da
população, foi detido, esse mês, para ser interrogado na investigação de um
escândalo de corrupção que já pôs na cadeia alguns de seus camaradas do Partido
dos Trabalhadores (PT). A sucessora de Lula, presidenta Dilma Rousseff enfrenta
pedido de impeachment no Congresso. A economia do país encolheu 3,5% ano
passado, e esse ano não verá melhor resultado. A inflação chegou aos dois
dígitos e centenas de milhares de brasileiros enfrentam o desemprego. E milhões
de pessoas tomaram as ruas, muitos em apoio, muitos em oposição, ao governo.
Ninguém parece nem remotamente preocupado com as Olimpíadas do Rio de Janeiro,
que estão a menos de cinco meses de começarem. E a mídia comercial – global e
brasileira – já rifou Lula, Rousseff e o Brasil.
A história do Brasil começou a perder grande parte do brilho em 2013,
especialmente aos olhos da mídia-empresa internacional e de negócios. Em
setembro de 2013, novamente The Economist põe o Brasil na capa. A matéria
pingava veneno e culpava Rousseff, então no governo há três anos, mas que
enfrentaria eleições de reeleição no ano seguinte, por ter feito "muito
pouco para reformar seu governo nos anos doboom." Acusava o Brasil de ter
"impostos demais", "excessivo gasto público" e de pagar
aposentadorias exageradamente "generosas".
Aquele não foi um bom ano para o Brasil. A economia patinava e centenas
de milhates de pessoas saíram às ruas em manifestações contra o governo, pouco
antes do início da Copa das Confederações da FIFA, para protestar contra a
corrupção e exigir melhores serviços públicos. A economia parecia estar
completamente paralisada.
Mas... O que deu errado entre 2009 e 2013? Como aconteceu de Rousseff,
que em 2010 a revista Forbes declarara a mulher mais poderosa do mundo, virar,
de repente, fraca e incompetente? Como aconteceu de a história do Brasil
passar, da esperança ao desespero, em tempo tão curto?
A resposta é simples: petróleo e o dinheiro, a força e a política que o
petróleo gera.
Em 2007, o Brasil descobriu um campo de petróleo com quantidades imensas
de petróleo numa região do pré-sal em águas oceânicas profundas. No período de
um ano, o país descobriu reservas de petróleo e gás natural que ultrapassam os
50 bilhões de barris – a maior reserva confirmada na América do Sul. Com isso,
o Brasil passou a ser o queridinho dos mercadores de petróleo do planeta e de
Wall Street.
A empresa estatal petroleira do Brasil, Petrobrás sempre tivera o
monopólio da exploração do petróleo no Brasil desde a criação da empresa, em
1953, mas o setor abriu-se, em 1997, para a Royal Dutch Shell. Com as
descobertas de 2007-08, gigantes globais como as empresas Chevron, Shell e
ExxonMobil puseram os olhos no Brasil, antevendo contratos lucrativos. Mas não
fecharam negócio algum.
Em 2007, Lula restabeleceu parcialmente o monopólio da Petrobrás sobre o
petróleo brasileiro. Prepararam-se leis, sob orientação de Rousseff,
então ministra de Lula, que deram à Petrobrás direitos de exclusividade na
exploração, com todos os lucros do petróleo orientados para os programas
sociais do governo, de Educação e Saúde. E a Petrobrás também iniciou parcerias
com outras petroleiras estatais de outros países, principalmente com
petroleiras chinesas (as petroleiras indianas ONGC e Bharat Petroleum também
são parceiras da Petrobrás e têm escritórios no Rio de Janeiro, onde opera o
quartel-general da empresa brasileira).
Imediatamente o Departamento de Estado e a Agência de Informação de
Energia, AIE [ing.Energy Information Agency (EIA)] dos EUA puseram-se a
trabalhar nolobbying de funcionários brasileiros, a favor das empresas dos EUA.
Em pouco tempo o Brasil entrou em modo de escolher quem sucederia Lula;
e seu partido, PT, indicara Rousseff como sua candidata. O principal partido de
oposição, o Partido da Social Democracia Brasileira, PSDB, que sempre apoiara a
privatização da Petrobrás, escolheu, como seu candidato, o ex-governador de São
Paulo, José Serra.
Os EUA acompanhavam muito de perto as eleições; documentos distribuídos
por Wikileaks mostram que os EUA apostavam numa vitória de José Serra, para
mudar as leis. "Deixe esses sujeitos (o PT) fazerem o que quiserem. Os
leilões e concorrências não acontecerão, e depois nós mostraremos a todos que o
velho modelo funcionava (...) e faremos tudo voltar ao que era antes" – lê-se em conversa entre José Serra
com o lobby do petróleo.[1]
Mas Serra foi à lona, na disputa eleitoral contra Rousseff nas eleições
de 2010. E a Petrobrás continuou como única operadora dos campos de petróleo do
Brasil, e a renda do petróleo continuou a ir para programas sociais do governo.
Rapidamente, a chinesa Sinopec tornou-se ativa na exploração de petróleo
em águas brasileiras, nos termos determinados pela lei, que estipulava um
mínimo de 30% para a Petrobrás em todas as ventures. Esse foi o fim da
lua-de-mel do chamado 'Ocidente', com o Brasil.
"Dado que o lobbying deles não conseguiu arrancar contratos de
petróleo, o Brasil virou vilão, como a Venezuela. O governo dos EUA e empresas
de petróleo lançaram contra nós um ataque clandestino. A mídia-empresa deles
fez como manda o figurino" – disse no Itamaraty um experiente diplomata
brasileiro, pedindo que seu nome não fosse divulgado. "Mas o governo
também errou, ao depositar excessivas esperanças na Petrobrás e no petróleo,
esquecendo que o petróleo é commodity cujo preço desaba quando menos se
espera" – completou ele.
Chegado ao poder sobre a promessa de fazer do Brasil uma sociedade mais
igualitária, com estado de bem-estar forte, o petróleo e a Petrobrás estavam no
centro dos planos dos governos de esquerda para usar recuros e dinheiro público
para combater a miséria, criar empregos públicos e levar o desenvolvimento para
as áreas mais remotas do país. A Petrobrás não era aposta errada.
Em 2007, a capitalização da empresa no mercado alcançou $190 bilhões. Em
2010, último ano de Lula no governo, o Brasil crescera 7,5% e as coisas
caminhavam para cima. Embora nos anos seguintes tenha havido uma queda na
capitalização e nos lucros da Petrobrás, a empresa permaneceu como uma das
maiores petroleiras do mundo. Mas as coisas ainda piorariam.
Entra em cena a Agência de Segurança Nacional dos EUA
Em junho de 2013, Edward Snowden, administrador de sistemas da Agência
de Segurança Nacional dos EUA (NSA, em inglês), fugiu para Hong Kong com uma
vasta quantidade de documentos confidenciais. Nos meses seguintes, trabalhando
junto a vários jornalistas de diferentes órgãos de imprensa, Snowden
disponibilizou uma série de arquivos, demonstrando como o governo
norte-americano espionava políticos, governos, empresas e movimentos sociais ao
redor do mundo. Surpreendentemente, o Brasil estava no topo da lista de alvos
da NSA, que coletava mais informações daqui do que da Rússia ou da China. O
governo americano alegou que a vigilância fazia parte de suas medidas
antiterrorismo, mas os documentos sobre o Brasil – e países como a Índia – revelaram um quadro totalmente diferente. Logo ficou evidente que os
alvos principais da NSA no Brasil eram a Petrobras e Rousseff.
O e-mail de Dilma, o telefone oficial e seu celular pessoal foram
rastreados pela NSA, assim como todos os e-mails, telefonemas, mensagens e
documentos oficiais da rede da Petrobras. Com essas revelações, a relação
Estados Unidos-Brasil atingiu seu ponto mais baixo. Autoridades brasileiras
foram rápidas em declarar que a espionagem tinha sido realizada em razão dos interesses dos EUA no
petróleo e gás do Brasil.
Naquele período, a Petrobras estava prestes a leiloar uma de suas
maiores jazidas petrolíferas, com a esperada participação de várias empresas
americanas. Mas após Dilma ignorar Obama na reunião do G-20 na Rússia e as
autoridades da Petrobras acusarem os Estados Unidos de roubarem informação que
lhes daria "posição privilegiada no leilão", histórias negativas
sobre a empresa brasileira e seu iminente leilão começaram a surgir na mídia
ocidental. Quando o leilão foi realizado, nenhuma empresa americana deu
qualquer lance. O que Serra 'previra', aconteceu.
Com os segredos e informações sobre seus ativos copiados pelas
instalações da NSA, a Petrobras era agora um alvo fácil. Sua queda apenas
começava.
Em março de 2014, Alberto Yousseff, doleiro condenado por lavagem de
dinheiro que havia sido preso cinco vezes, começou a dar com a língua nos
dentes após negociar um acordo de delação premiada com os procuradores de
Curitiba, capital do estado do Paraná, no sudeste do Brasil. Youssef denunciou
muitas pessoas do alto escalão que, segundo ele, haviam sido beneficiárias de
suborno, propina e lavagem de dinheiro na Petrobras. Desde então, a
investigação sobre esse escândalo, chefiada pelo juiz Sergio Moro, levou a
nomes de altos executivos brasileiro no ramo do petróleo e, mais importante, da
liderança do PT.
Conhecida como "Operação Lava Jato", a investigação se
desenrola como uma telenovela, com pessoas de renome sendo levadas pela polícia
ou mandadas para prisão por Moro em intervalos regulares.
Neste mês, o impensável aconteceu. O líder mais popular da história do
Brasil esteve prestes a ser preso por suspeita de corrupção relacionada à
Petrobras. No dia 3 de março, a Polícia Federal levou Lula de sua casa sob um
"mandado de condução coercitiva" (que força a pessoa a testemunhar
sobre um caso) e o deteve por cinco horas em um dos escritórios da polícia no
aeroporto para voos domésticos de São Paulo.
Enquanto Lula era detido e liberado, a tensão foi-se acumulando pelo
país com uma parte da sociedade brasileira – classe alta e de maioria branca –
celebrando a ação policial, enquanto a outra parte protestava contra o
"golpe". O Brasil dividiu-se verticalmente no dia em que Lula foi
detido.
História de golpes
O Brasil é país dividido já há um bom tempo. Poucas pessoas no país
aceitam a existência de linhas de ruptura de classe e raça, mas elas são
visíveis todos os dias nos conflitos sociais e políticos do Brasil. Após anos
de estresse, as linhas começaram a se agitar em junho de 2013 enquanto o Brasil
se preparava para receber a Copa das Confederações da FIFA; milhares foram às
ruas protestar contra o governo, com alguns pedindo o impeachment e outros
ainda pedindo intervenção militar.
Ignorando a natureza racial e de classe dos protestos, a mídia – local e
internacional – chamou aquilo de "primavera brasileira" – um levante
contra governo impopular e corrupto.
Narrativa similar se repetiu nos últimos dias desde a detenção de Lula.
Mas muitos do governo veem isso como conspiração. "O que está acontecendo
no país é uma conspiração nacional e internacional para destruir o PT e
introduzir no Brasil um modelo econômico como o atual (neoliberal) da
Argentina" – disse o veterano diplomata brasileiro Samuel Guimarães a
repórteres, após Lula ser detido pela polícia. "Isto é um golpe em
andamento".
O Brasil tem familiaridade com golpes. Assim como com as interferências
externas dos Estados Unidos. No século 20, pelo menos três presidentes
brasileiros perderam o mandato – e um, a vida – por realizar políticas
populares, despertando a ira das elites do país e de Washington.
Em todos os casos, o culpado pela queda dos presidentes foi a alta da
inflação, queda da renda e má administração da economia. Há um claro padrão
nisso tudo. Getúlio Vargas, criador da Petrobras como uma empresa estatal e que
deu direitos sociais aos pobres do país, foi acusado pela elite carioca,
liderada pelo conglomerado midiático, de corrupção que ele nunca cometeu. Em
1954, pôs fim à humilhação pública ininterrupta com uma bala no peito.
O próximo a cair foi Jânio Quadros, vencedor da eleição presidencial com
margem de diferença recorde em 1961. No mesmo ano, Jânio convidou o
revolucionário argentino Ernesto "Che" Guevara ao Brasil, e o honrou
com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Essa iniciativa alarmou a elite
brasileira e os americanos, ambos paranoicos com a expansão do comunismo na
América do Sul. Então, Jânio cometeu um erro ainda maior: nacionalizou jazidas
minerais. Em menos de um ano, foi retirado do poder por um Congresso dominado
por antigos capitalistas e pessoas leais a Washington.
Jânio foi substituído por João Goulart. Líder de centro com visões
progressistas, Goulart começou a implementar políticas de aumento salarial para
os trabalhadores, reforma agrária, direito ao voto para todos os brasileiros e
justiça social. Enquanto o governo brasileiro se dirigia levemente para a
esquerda, John F. Kennedy, o então presidente americano que ainda se recuperava
do infortúnio na Baía dos Porcos em Cuba, começava a discutir com seus aliados
as maneiras de tirar Goulart do poder.
De acordo com documentos do Arquivo da Segurança Nacional dos EUA, em março de 1963,
Kennedy disse a seus aliados: "Temos que fazer alguma coisa quanto ao
Brasil". Logo depois, a mídia brasileira chamava Goulart de comunista e
reclamava sobre a alta da inflação. Em 1964, sob o comando dos EUA, o exército
brasileiro derrubou Goulart para "salvar o país" do comunismo. Até
hoje, muitos círculos da elite brasileira chamam aquele golpe de
"revolução".
O mundo sabe dos regimes ditatoriais brutais da Argentina e do Chile,
mas tudo começou no Brasil – em 1964. A maioria dos países sul-americanos foi
devastada por décadas de ditaduras patrocinadas pelos EUA. Os países só
iniciaram o retorno à democracia nos anos 90, após o fim da Guerra Fria.
Tragédia pela segunda vez
A contínua marcha para a esquerda na América do Sul disparou os alarmes
de Washington novamente e também tirou o sono da elite local. Depois de 13 anos
de governo petista, durante o qual enormes planos de bem-estar social foram
implementados, a elite brasileira está cega de preocupação com a
"bolivarização" do Brasil – referência às políticas de esquerda da
Venezuela sob o governo de Hugo Chávez. Em São Paulo, a capital financeira da
América do Sul, as conversas de bar geralmente são em torno de como o Brasil
está se "tornando uma Venezuela". Os manifestantes antigoverno nas
ruas repetem os mesmos slogans, enquanto agridem agridem qualquer um que lhes
apareça vestido de vermelho.
No Brasil, muitos intelectuais, observadores políticos, ativistas
sociais, peritos judiciais e membros do governo acreditam que, diferentemente
de 1964, quando o exército liderou a tomada do governo, a atual
"contrarrevolução" está sendo organizada e liderada pelos partidos
neoliberais em conluio com lobistas do país, grupos de direita, a mídia
corporativa e um "judiciário altamente politizado".
Liderando o ataque ao governo Dilma Rouseff está o PSDB, autoproclamado
democrata social, mas que de fato é um partido de direita que advoga políticas
neoliberais e destruição de políticas sociais. Tendo perdido quatro eleições
consecutivas para o PT, o PSDB testemunha uma guerra amarga entre seus líderes
– todos desejando ser o presidente do país. O partido sentiu uma chance de
vitória em 2015, após as pesquisas de opinião projetarem Dilma enfraquecida
pelo escândalo da Petrobras e pelos protestos das ruas. No meio do processo
eleitoral, após Eduardo Campos, um popular candidato do Partido Socialista
Brasileiro, ter misteriosamente falecido num acidente de avião, o candidato
pelo PSDB, Aécio Neves, começou a imaginar-se no palácio presidencial. A mídia
ocidental o projetou como o salvador do Brasil. Banqueiro do Morgan Stanley chegou a
comparar a 'ascensão' de Aécio ào do
Primeiro-ministro indiano Narendra Modi.
Aécio estava certo de sua vitória após a revista Veja publicar uma
matéria na véspera do 2º turno das eleições
em dezembro de 2014, alegando que o doleiro Yousseff havia dito à
polícia que Dilma e Lula sabiam da corrupção na Petrobras. Mas mesmo assim,
Aécio perdeu a eleição. Um mês após o início do segundo governo Dilma
Rousseff, em janeiro de 2015, Aécio iniciou o pedido de impeachment, ainda
tendo o artigo de Veja como "prova" da cumplicidade da presidente com
o escândalo.
O artigo, publicado sem nenhuma resposta de Lula e Dilma, não era
exceção. Os julgamentos da "Operação Lava Jato" estavam tanto na
mídia quanto nas cortes,com vazamentos regulares de acusações
feitas em delações premiadas. O magistrado de Curitiba,
declaradamente influenciado pela operação Mani Pulite da Itália, tornou-se
cultuado pela classe média, com suas fotos e frases espalhadas por revistas e
jornais quase que diariamente.
Mas Moro, o juiz, também tem enfrentado críticas por suas táticas de manter os acusados na prisão, sem fiança, e utilizando-se de acordos
de delação premiada para construir casos contra outros. Até o The Sunday Times
de Londres recentemente publicou artigo sobre o juiz brasileiro,
questionando a forma como ele conduz o caso.
O complexo judicial-jornalístico
Moro pareceu dar importância mínima a essas críticas, quando enviou a
Polícia à casa de Lula para prendê-lo. Apesar de o nome do ex-presidente
aparecer citado em incontáveis artigos que o dão como ligado ao escândalo, a
verdade é que, até hoje ninguém apresentou qualquer tipo de prova contra ele –
nem em tribunais nem em algum veículo de imprensa comercial. Além disso, o
ex-presidente jamais se recusou a cooperar com a investigação. Portanto, quando
Lula foi preso por mandato coercitivo assinado por juiz, muitos entenderam que
o juiz Moro pisara fora da linha. Um juiz da Suprema Corte brasileira, Marco
Aurélio Mello, criticou publicamente o juiz,
porque "coerção só se aplicaria se Lula tivesse sido intimado e se
recusasse a depor, o que não aconteceu."
Mas, mesmo com a tática dura de Moro, a detenção de Lula não saiu
conforme oscript. Tão logo a notícia da prisão espalhou-se por São Paulo,
começaram as brigas a murros na calçada em frente ao prédio onde Lula mora. E a
conta do PT no Twitter lançou mensagem em que Lula era chamado de "preso
político". Com as mídias sociais fervilhando de notícias sobre o
"sequestro" de Lula pela polícia, centenas de pessoas começaram a
reunir-se pelas ruas em São Paulo, gritando "Não vai ter golpe" [N.
Quando já começavam a chegar notícias de multidões mobilizadas em outras
cidades do país, o ex-presidente Lula foi deixado partir.] E dirigiu-se
diretamente à sede do Partido dos Trabalhadores, onde falou a uma multidão de
ativistas e estudantes. "Mereço mais respeito nesse país" – disse
Lula, com ar cansado, mas resoluto. Na mesma noite, Lula estava numa reunião de
sindicalistas, onde disse que, sim, pode candidatar-se à presidência em 2018.
"Sinceramente, espero que tenha outras pessoas para serem candidatas.
Agora, uma coisa pode ficar certa: se for necessário, eu vou para a disputa em
2018" – disse Lula a uma multidão reunida para ouvi-lo, no centro de São
Paulo.
Até apoiadores ferrenhos do PT e de Lula consideram que o Partido dos
Trabalhadores é em parte responsável pelo que acontece hoje no Brasil. O
envolvimento de líderes do partido em atos de corrupção maculou sua imagem até
entre seguidores. Além disso, o núcleo duro de apoio ao partido, sindicatos,
movimentos sociais, ativistas e ideólogos de esquerda já se afastaram do PT,
com Rousseff empurrando o governo para o centro e, ela própria, afastando-se
daquelas bases. Nesse cenário, a prisão de Lula deveria ser o golpe de morte
contra o PT. Na mídia comercial – local e global – Lula era apresentado como
figura isolada. Na verdade, a situação em campo mostrou-se muito diferente,
ante os milhões de apoiadores que se apresentaram nas ruas em apoio ao
ex-presidente.
Mas outras reviravoltas estavam por vir.
Dia 11 de março, Rousseff ofereceu a Lula um posto de ministro de seu
governo. Depois de muita discussão e adiamento, Lula afinal aceitou ser
ministro da Casa Civil da presidenta Dilma (cargo, aproximadamente, de
primeiro-ministro). O movimento foi considerado pelos petistas como necessário
para salvar o governo do "golpe" em curso; a oposição não tardou a
'denunciar' o que, para ela, seria tentativa de salvar Lula de ser preso no
"escândalo da corrupção". Dia seguinte, o juiz Moro entregou à Globo
TV a gravação de uma conversa telefônica entre a presidenta e o ex-presidente,
em que conversam sobre a ida de Lula para o ministério. À noite, a TV Globo
exibiu a gravação em horário nobre, interpretando as falas como se fossem uma
espécie de 'arranjo', para garantir a Lula um cargo que o poria em situação de
só poder ser julgado pela Suprema Corte.
Como se não bastasse divulgar material sem verificar a veracidade dos
fatos e sem autorização legal, os âncoras e repórteres da TV Globo puseram-se a
incitar a população a ir para as ruas protestar contra Lula e Rousseff.
A gravação pela Polícia Federal, de conversas de Rousseff no próprio
telefone, quando a presidenta falava com um ex-presidente, imediatamente
disparou uma comparação com a vigilância ilegal da Agência de Segurança
Nacional dos EUA. Vários importantes juristas e especialistas em questões de
escutas ilegais questionaram a decisão de Moro, de gravar conversas privadas e
'vazá-las' para a TV Globo, antes de a gravação ter sido apresentada como prova
na corte. Mas Moro justificou sua ação, comparando o caso brasileiro ao
escândalo Watergate que envolveu o ex-presidente Richard Nixon.
A gravação de 30 segundos, que já não tem qualquer valor judicial, deu
munição à oposição para exigir a prisão de Lula e que se acelerasse a
tramitação de um pedido de impeachment contra Rousseff.
Apesar de o ministro Mello da Suprema Corte já ter criticado Moro
duramente, chamando de "crime" a ação de gravar clandestinamente
conversas da presidenta, o vazamento da gravação e as manchetes histéricas de O
Globo e da TV do mesmo grupo Globo tiveram o efeito desejado: a nomeação de
Lula ao cargo de ministro foi bloqueada – e eclodiram movimentos de rua contra
o governo Rousseff.
Dois Brasis, duas narrativas
No dia seguinte ao vazamento da conversa gravada, cerca de 1,5 milhão de
pessoas, muitas usando a camisa amarela da seleção de futebol do Brasil e
ostentando bandeiras do Brasil, saíram às ruas pelo país.
Com muitos fotógrafos e cinegrafistas em helicópteros registrando o mar
de verde-e-amarelo na Av. Paulista em SP, onde se reuniram 400 mil pessoas, no
maior protesto antigoverno da história da cidade, dia seguinte os jornais
estavam também pintados de verde-e-amarelo. Quem visse pensaria que todo o
Brasil exigia a cabeça do PT. Foi o que bastou para que a velha narrativa de
"levante popular contra governo corrupto e ineficiente" voltasse às páginas
da mídia comercial internacional.
A verdade é um pouco mais complicada.
Embora vestidos com as cores nacionais, as pessoas que protestaram
naquele dia na Av. Paulista seriam qualquer coisa, exceto nacionalistas.
Pesquisa da empresa Datafolha revelou que 80% dos 'manifestantes' anti-Rousseff
e anti-PT eram brancos; 77% com formação universitária; e 75% classificados nos
grupos de mais alta renda.
Num país cuja população apresenta 50% de brancos, 11% apenas, com
formação universitária e menos de 6% classificados nos grupos de mais alta
renda, não é difícil entender quem, afinal de contas, manifestava-se nas ruas
contra o governo Rousseff. Praticamente todos ali eram representantes da elite
da sociedade brasileira: ricos, brancos e conservadores.
A elite brasileira sempre manifestou grande incômodo com a vitória de
candidatos populares de tendência de esquerda; o partido preferencial da elite
era o PSDB – várias vezes derrotado nas urnas. No governo do PT, mais de 40
milhões de pessoas superaram a pobreza e ascenderam socialmente. Foi o período
de mais consistente inclusão social, num país conhecido pela terrível
desigualdade. Aconteceram mudanças sociais amplas no Brasil. Com leis que
garantem salários mínimos e aposentadorias e pensões, a classe média alta
deixou de poder manter empregados domésticos e motoristas. Com quotas
asseguradas para o acesso à educação, estudantes negros entram afinal nas
universidades públicas e no mercado de trabalho profissional, em números jamais
vistos no Brasil. E com renda melhor, os pobres afinal viajam de avião, compram
em shopping centers e compram casa própria em bairros tradicionalmente 'de
ricos' (e brancos). Fato é que os governos do Partido dos Trabalhadores, sim,
perturbaram a velha ordem estabelecida.
Poucos países viram, em toda a história, mudança social tão ampla, em
tão pouco tempo. Assim como os ricos explodiram em fúria nos tempos de mudanças
nos governos de Getúlio Vargas e João "Jango" Goulart, também dessa vez as classes
privilegiadas do Brasil estão furiosas contra o PT por dar dinheiro diretamente às mães pobres, no programa Bolsa Família –
que inspirou o programa indianoMahatma Gandhi National Rural Employment
Guarantee Act, MNREGA (Lei Mahatma Gahdhi de Garantia Nacional de Emprego
Rural).
Em seus discursos, Lula frequentemente denuncia a elite brasileira por
não aceitar essa mudança social e ressentir-se por a vida dos mais pobres ter
melhorado um pouco. No Brasil, muitos entendem que a atual crise foi urdida
pela elite brasileira, para desestabilizar o governo e conseguir voltar ao
poder.
"Os primeiros protestos contra Dilma aconteceram em 2013, quando
nos preparávamos para receber a Copa das Confederações da FIFA. Naquele
momento, o desemprego era o mais baixo que jamais houve no Brasil, inflação de
um dígito, salários em alta, e Dilma tinha aprovação de 70%. E tanta gente
exigia 'mudanças'?! Claro q há mudanças a fazer, mas reivindicar naquele momento,
e não em tantos outros, não fazia sentido. De fato, foi o início de uma
operação de mudança de regime, mais uma 'revolução colorida', dessa vez no
Brasil" – diz membro do PT que pede para não ser identificado. "Foram
ações organizadas e promovidas pelas mídias sociais. Foi quase como uma
operação de inteligência" – acrescenta.
Embora não haja prova de que os protestos antigoverno de 2013 tenham
sido arquitetados de fora, também ali, sem dúvida possível, a multidão era
indiscutivelmente 'elite'. Pesquisa da Datafolha feita naquele momento mostrou
que 90% dos manifestantes eram brancos; 77% com formação universitária. Desde
2013, todos os protestos contra o governo acontecem em áreas de classe média
rica, longe das áreas onde vive a maioria da população mais pobre. Mas as
mídias comerciais sempre falam da "indignação dos brasileiros", como
se todos fossem igualmente ricos, ou igualmente pobres.
No Brasil toda a imprensa/mídia comercial é controlada por oligarcas – e
o país já foi chamado de "Um país de 30 Berlusconis"
em documento dos Jornalistas Sem Fronteiras. Sempre houve, desde o
primeiro mandato de Lula em 2003 – governo de tendência de esquerda ou apenas
progressista –, guerra declarada àquele governo, pelas empresas da imprensa
comercial no Brasil.
Nos anos Rousseff, a guerra tornou-se ainda mais suja. O massacre contra
os governos petistas sempre foi comandado pelo Grupo Globo, que inclui dúzias
de jornais, revistas, canais de TV e websites. O conglomerado, que tem
monopólio quase total sobre noticiário, entretenimento, futebol e carnaval,
sempre, historicamente, foi anti-PT. O grupo também apoiou ativamente o golpe
militar de 1964 e cresceu, com lucros gigantes, durante os 21 anos do governo
dos militares.
Mas o tom beligerante da TV Globo não caiu bem entre os brasileiros
pobres e das classes médias, e muitos já trabalham para boicotar a rede. Um dia
depois que o canal de TV do grupo exibiu a fita da conversa entre Lula e
Rousseff, o famoso ator brasileiro Wagner Moura, astro de Narcos em Netflix,
distribuiu um vídeo por sua página de Facebook, manifestando preocupação com o
"circo midiático" e a "agenda política" do Judiciário.
"A mídia, claro, se se examina o passado, todos os grupos estiveram
envolvidos no golpe de 64" – diz Moura no vídeo.
A mídia comercial brasileira dominante tem poder tremendo no país, mas
raramente usa esse poder para questionar o Judiciário. Todos os 'vazamentos
seletivos' feitos por Moro e pela polícia federal foram cuidadosamente
publicados e repetidos.
E há graves acusações por corrupção contra altos chefes do PSDB,
inclusive contra Aécio Neves e contra o presidente da Câmara de Deputados,
Eduardo Cunha... o mesmo que, agora, conduz o processo de impeachment contra
Rousseff. Mas a imprensa comercial absolutamente não se interessou por levantar
qualquer discussão que envolva esses chefes.
Para comentaristas de esquerda, o país enfrenta "golpe", e as
empresas comerciais de mídia e o Judiciário trabalham juntos. Miguel do Rosário, editor de O
Cafezinho,website não comercial, de esquerda, vê conspiração ainda
maior que em 1964. "Semelhante a 1964, o golpe atual é apoiado pela maior
empresa de mídia comercial do Brasil, Globo. Diferente de 1964, o golpe atual é
resultado da ação de um Judiciário ideologicamente tendencioso, que tem três
objetivos: derrubar presidenta democraticamente eleita; impedir que o
ex-presidente Lula concorra às eleições de 2018; e, afinal, pôr na ilegalidade
o Partido dos Trabalhadores brasileiro" – escreveu ele.
Pode soar alarmista, mas há medo no ar, no Brasil, pelo modo como as coisas
vão-se desdobrando: medo pelo futuro da democracia e do Estado de Direito.
Dia 18 de março, centenas de milhares de pessoas
comuns encheram as ruas em "defesa da democracia", em 45
cidades em todo o país. A maior concentração aconteceu em São Paulo onde 250
mil pessoas, inclusive críticos do governo de Dilma e de Lula, encheram a
Avenida Paulista, apesar das ameaças de violência por gangues de direita. Foi
um show de força, contra "o golpe". Foi um show da diversidade do
Brasil. A noite incendiou-se quando Lula, vestindo camisa vermelha [sempre usou
camisa vermelha em todos os atos do Partido dos Trabalhadores (NTs)], chegou à avenida
e falou durante 20 minutos, sobre o teto de um ônibus que fechava a passagem.
"Não vai ter golpe," gritou Lula, ecoado por milhares de vozes.
"Democracia tem a ver com a voz do povo, trata da voz da maioria" –
disse ele, eletrizando a multidão.
A detenção de Lula energizou a esquerda brasileira. As ruas, desde 2013,
estavam dominadas pela direita. Agora, com os grupos de esquerda se
reorganizando, muitos temem o pior: violência e conflito social.
A disputa final
Brasileiros comuns podem estar-se preparando para brigas de rua, mas os
verdadeiros jogos estão sendo jogados em Brasília, capital do país. Um juiz da
Suprema Corte, Gilmar Mendes, suspendeu a nomeação de Lula para o ministério da
presidenta Dilma. Cunha uniu-se ao PSDB para acelerar o impeachment de
Rousseff. Michel Temer, o vice-presidente, estaria discutindo a formação do
governo pós-Dilma, com José Serra, hoje senador. Há rumores de que o processo
deimpeachment estará concluído no fim de abril, e de que Temer – que aparece em
posição de destaque em vários casos de corrupção – assuma o governo do Brasil.
O Brasil está na corda bamba. Um ex-presidente que transformou o país
pode ir para a prisão. A atual presidenta, contra quem não há qualquer acusação
de corrupção, pode ser impedida. E tudo isso no ano em que o país hospedará os
Jogos Olímpicos. Pois por mais que alguns temam que a atual crise venha a causar
dano às instituições do país, e outros falem de uma ameaça à democracia, a
elite brasileira parece não se preocupar.
Indicação do que pode estar sendo cozinhado em Brasília, Ilimar Franco,
conhecido jornalista e blogueiro publicou foto de uma reunião de almoço,
dia 16 de março, um dia antes de a nomeação de Lula para o ministério ter sido
suspensa. Na foto, Mendes, o juiz que, no dia seguinte, suspendeu a posse, é
visto almoçando com Serra e Armínio Fraga, [ex-presidente do Banco Central do
Brasil, de 1999 a 2002, assessor dos dois governos do PSDB de Fernando Henrique
Cardoso (NTs) e] ex-gerente do Fundo Quantum, de George Soros. A foto viralizou
nas mídias sociais, com muita gente se perguntando sobre o que estariam
discutindo o juiz; um ex-candidato à presidência e nome que aparece várias
vezes citados nos telegramas de Wikileaks [como 'contato' da Embaixada e de
consulados dos EUA no Brasil (NTs)], e um gerente de fundos que representa o
interesse das corporações financeiras dos EUA.
É. Podem ter sentado para almoçar e discutir futebol.
Mas com Serra, mestre de conspirações políticas, no centro da ação,
depois da humilhante derrota que sofreu nas eleições de 2010, quando Dilma o
tirou da corrida presidencial, as próximas poucas semanas serão cruciais para o
Brasil, para o PT e para a Petrobrás.
Em Brasília, a batalha está sendo chamada de "ou vai ou
racha", com alianças políticas dos dois lados do muro sob pressão intensa,
para alcançar os números necessários, seja para descartar seja para aprovar o
impeachment de Dilma. Dilma e Lula lutam pela democracia e pela própria
sobrevivência política, mas já se veemlobbyistas trabalhando freneticamente
para quebrar o monopólio da Petrobrás sobre o petróleo brasileiro.
Em meio a todas as mais ferozes disputas nos tribunais, no Congresso e
nas ruas, o Senado brasileiro aprovou recentemente uma lei que pode "cancelar a exigência de que a Petrobrás seja operadora e
fique com pelo menos 30% dos lucros operacionais em todos os campos do
pré-sal". Se essa lei, cujo projeto é patrocinado pelo senador José Serra,
vier a ser lei, terá acabado o controle que a Petrobrás tem sobre os campos de
petróleo do país. Embora fortemente rejeitado por alguns senadores, como
Roberto Requião, do Paraná, a lei foi aprovada no Senado, por diferença mínima.
Surpreso ante o frenesi para privatizar os negócios do petróleo, Requião
disse que a tramitação da lei está avançando "na correria, sem passar
pelas comissões, com os gabinetes dos senadores cheios de lobbyistas que
promovem interesses de multinacionais como Shell e British Petroleum".
Mas, ante a massiva pressão doslobbyistas, a oposição do senador Requião não
foi suficiente. "Será que o Brasil perdeu a maioria no Senado, para
petroleiras multinacionais? Ainda espero que não" – o veterano senador
tuitou, depois da votação.
Agora o projeto de lei vai à Câmara de Deputados e, na sequência, terá
de ser sancionado pela presidenta. Rousseff ainda pode vetar o projeto de lei.
Mas, se o vice-presidente Michel Temer, que se separou de Dilma, assumir a
presidência em lugar dela, há bem pouca dúvida de que o projeto será sancionado
e se converterá em lei. Significaria que todo o drama que o Brasil está vivendo
– detenção de Lula,impeachment de Dilma e perseguição incansável ao PT –
resume-se, afinal, a petróleo.
Como voz do Big Oil, The Economist põe o Brasil outra vez na capa, essa
semana. "Time to go" [Hora de
sair], diz a revista, sobre uma foto de Dilma com ar desolado. Repetindo o
mesmo velho script de "má administração da Economia", a revista
'exige' a remoção, do governo, de uma governante eleita, que recebeu seu
mandato, de pleno direito, em eleições livres e justas, ocorridas há menos de
15 meses.
Hoje, a elite e o complexo midiático-judiciário brasileiro também seguem
o mesmo script. Como aconteceu com presidentes anteriores – Vargas, Quadros e
Goulart –, se Dilma Rousseff tiver de deixar o governo, as multinacionais do
petróleo terão vencido mais uma vez. E mais uma vez o Brasil terá sucumbido a
um golpe de Estado.*****
* Shobhan Saxena é jornalista, indiano, que cobre assuntos da América do
Sul, com base em São Paulo.